segunda-feira, 14 de setembro de 2015

educação não é prioridade para o atual governo

(*) Andrea Linhares
Nota 1: A longa greve dos docentes e técnicos administrativos da UERN chega aos 110 dias tendo enfrentado na semana que se encerra uma pesada onda de ataques por parte de apoiadores do atual governo, que parecem investir na desconstrução da legitimidade do movimento.
Mais que isso, aliados do governo Robinson Faria questionam a própria legitimidade legal e moral de manutenção da instituição por parte do governo do Estado. Um luxo, um contra-senso, argumentam.
Desnecessário um estado pobre como o RN gastar dinheiro com “aldeões condenados pela subcultura histórica”; É possível que tais visões professadas por aliados realmente traduzam a visão do próprio governador, tendo em vista o modo como tem se comportado com relação a questão da UERN.
O tom das críticas coloca o debate num nível de realismo interessante e parece denotar que para a Corte do atual governo, o RN só existe em função da capital e nesse caso esse extenso interior que compõe o Estado, incluindo Mossoró e região Oeste, existem apenas e tão somente como um depósito de votos necessários à renovação de mandatos e poderes.
Talvez tal perspectiva ajude a entender a aparente contradição presente, por exemplo, no fato do deputado federal Fábio Faria e a própria senadora Fátima Bezerra investirem na elaboração e aprovação de emenda parlamentar no valor de dezenove milhões destinada à ampliação da UERN com a construção do campus de Apodi.
Irresponsabilidade parlamentar?
ignorância sobre a realidade orçamentária da instituição? ou motivação puramente eleitoreira ao velho estilo de nossas velhas oligarquias?
Ou tudo junto e misturado?
Bem, o fato então é que os próprios aliados do governo têm contribuído com a grande irracionalidade representada pela “expansão e manutenção da UERN por parte do governo do Estado” Deveriam portanto assumir responsabilidades diante do atual processo de paralisação.
Nota 2: Há outras hipóteses para embasar especulações a respeito das recentes e acaloradas análises e opiniões sobre a greve da UERN emitidas por jornalistas e analistas da capital, apoiadores do atual governo.
Curiosamente a polêmica se deu:  a) na semana onde o número de dias da paralisação atual ultrapassou o período de paralisação enfrentado pela gestão Rosalba Ciarlini; b) Enquanto a missão de Finanças e Fiscalização da Assembleia Legislativa aprovava o projeto de Lei que reajustou salário dos servidores do MPRN e c) Após a exoneração da secretária adjunta da educação Socorro Batista, devido ao fato da mesma reivindicar solução para a crise.
Pode ser mera coincidência, é claro, entretanto determinados apoiadores do governo com atuação na mídia e redes sociais parecem jogar poeira nos olhos da opinião pública, tirando de foco os fatos acima descritos.
Ainda nesse sentido, as polêmicas declarações sobre a greve da UERN estariam servindo não apenas para deslegitimar o movimento grevista e tirar de foco fatos inconvenientes ao governo.
Aliados parecem buscar amortecer os impactos negativos relacionados à paralisação que poderiam estar incidindo diretamente sobre a figura do governador.
De diferentes matizes ideológicos e movidos por distintos interesses pessoais e de grupo, aliados rugem chamando para sí a polêmica, objetivando evitar a desconstrução da imagem pública de Robinson Faria e seu governo. Ação objetivada ou consequências não premeditadas?
Nota 3: Enquanto isso o governo Robinson Faria segue executando seu marketing político focado no “simbolismo” do diálogo. Um marketing cada dia mais vazio, por não encontrar efetiva substância no plano da realidade.
Ao longo desses mais de cem dias de paralização o governo convocou, ora a reitoria e representantes da administração, ora sindicato, ora ambos, para promover não mais do que factoides.
Encontros onde nada se decidiu, onde a decisão final ficou sempre condicionada e protelada, onde adiante se constatou o “mal entendido”. E ao final, o retorno inevitável à situação paralisante. E quem dirá que o governo não se esforçou pelo diálogo?
A imagem formal e oficial dos encontros, todos devidamente clicados, editados e publicizados pelos veículos de comunicação alinhados atestam em suas páginas e espaços virtuais o “empenho” do governo.
Tudo movido pela força de algum empuxo que os condiciona a orbitar em volta do centro de gravidade do governismo sob o olhar positivo de quem vive no melhor dos governos possível. É isso que o governo chama de diálogo? “Todo cuidado com as contradições é pouco…retire-se o espaço destinado aos comentários do leitor, eliminemos arquivos virtuais referentes ao período do governo anterior, ou ao período da greve anterior. Moderação em estado de alerta”.
É assim que circula a informação e a opinião pública no “governo do diálogo”?
Nota 4: A atual greve se dá num contexto político interessante: um momento peculiar para o grande fomentador dos movimentos grevistas no estado ao longo dos últimos anos, o Partido dos Trabalhadores.
No RN o partido neutraliza em parte os estragos da crise nacional que atinge eticamente a legenda, se fortalecendo política e organizacionalmente através da distribuição de cargos a seus membros, valiosos recursos obtidos graças à aliança com o atual governo e ocupação de cinco secretarias e alguns outros cargos na administração indireta.
Curiosamente vivemos a maior greve da Universidade do Estado sob um governo fortemente apoiado pelo PT e mais, diante de uma Secretaria da Educação também comandada por um petista.
A longa paralisação já custou uma cabeça ao partido: a da (ex-) secretária adjunta Socorro Batista, pelo seu pedido por solução para a greve junto ao governo. Analistas observam o silencio do partido diante da inusitada exoneração.
Mas o que representa um cargo de adjunto diante de cinco secretarias? Em curso observamos a operação “deixa quieto, deixa passar”. Com relação ao caso da professora exonerada e também com relação à própria paralisação da UERN, lamentavelmente. O Partido dos Trabalhadores no RN segue se aperfeiçoando nos padrões do pragmatismo.
Aos poucos seus membros se desprendem de certo ethos oposicionista e vão definitivamente aprendendo a ser governo, a lidar com as contradições do poder.
A atual greve da UERN terá dado uma significativa contribuição a esse processo. Colaborativo, o partido tem assegurado uma contrapartida bastante importante ao governo Robinson Faria: tem contribuído com seu obsequioso silêncio, sua “vista grossa” e mesmo com a defesa do governo do qual fazem parte.
Resumo da ópera: A forte presença do Partido dos Trabalhadores no governo, contraditoriamente, tem configurado um contexto político desfavorável para a negociação das demandas dos professores da UERN (!).
Greve dramática segue em pleno curso.
 (*) Andrea Linhares é professora do Departamento de Ciências Sociais da Universidade Estadual do Rio Grande do Norte.

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