As crises
Os investimentos são o motor da expansão econômica. Os capitalistas são levados a investir sob o impulso da concorrência. Mas num regime de propriedade privada dos meios de produção, os investimentos fazem-se essencialmente de maneira descontínua. Os centros de decisão são múltiplos; eles são essencialmente influenciados pelas previsões de lucros. Quando a oferta ultrapassa a procura, quando o mercado parece em rápida expansão, quando as vendas fazem-se a preços que deixam lucros consideráveis, as forças que favorecem a extensão dos investimentos prevalece sobre aquelas que tendem a travá-las. Basta que as decisões em investir se multipliquem em alguns sectores para que elas se generalizem rapidamente.
O contrário também é verdade: uma redução brusca dos investimentos em vários sectores importantes (porque há superprodução, stocks invendáveis ou capacidade de produção excedentária, ou ainda porque as margens de lucro diminuem) tende a impor uma tendência geral à redução dos investimentos. Mas há habitualmente uma diferença bastante importante no tempo entre o momento onde a decisão de reduzir os investimentos é tomada e o momento onde a produção industrial começa a estabilizar-se ou a diminuir, porque as antigas decisões de investimento demoram a produzir efeitos produtivos. Esta diferença (time lag) é um mecanismo fundamental; explica a eclosão das crises. A descontinuidade das decisões de investimento, os movimentos de entusiasmo (no sentido da expansão ou do aperto) constituem a explicação técnica.
Mas a causa mais profunda das crises periódicas reside simultaneamente na queda periódica da taxa de lucro e na diferença crescente entre a capacidade de produção e a procura solvável dos produtos acabados, diferença que qualquer produção para o produto acaba por dar lugar. Poder-se-ia imaginar em caso de absoluta necessidade uma "programação" econômica que liga à parte relativamente declinante do valor acrescentado que cabe às massas uma parte declinante da produção de bens de consumo na produção global. Esta tendência verifica-se aliás a longo termo. Mas o crescimento da produção de bens de investimento, quaisquer que sejam as voltas cada vez maiores que toma o processo de produção antes de chegar ao "último consumidor", acaba sempre por aumentar a capacidade de produção de bens de consumo. É por isso que o entusiasmo dos investimentos - indissociavelmente ligado ao regime de propriedade privada dos meio de produção e aos múltiplos centros de decisão para os investimentos importantes, isto é a concorrência e a anarquia da produção - conduz necessariamente à superprodução periódica.
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