Ciclos
Econômicos: Teoria e Evidência
1
- Introdução
Estudos sobre a teoria dos ciclos econômicos ganharam
maior importância a partir da segunda metade do século XIX, concomitante às
reflexões em torno do fenômeno das crises que afetaram a economia mundial desde
a Revolução Industrial. A principal característica do ciclo era a de que as
economias capitalistas moviam-se de acordo com um padrão estruturado, gerando
movimentos regulares, observáveis empiricamente, expansionistas e contrativas
do produto agregado.
Diferentemente, as crises se relacionavam com a ruptura da
estrutura vigente, em que o sistema capitalista mostrava-se incapaz de dirigir
a produção e assegurar o consumo, gerando o paradoxo da coexistência de
superprodução e subconsumo. A sociedade como um todo sofre os efeitos perversos
das crises e também dos ciclos econômicos, em que os desequilíbrios tendem a se
multiplicar, agravando o período recessivo em que a economia, nacional ou até
mesmo internacional se encontra.
Dessa maneira, não negando a importância da discussão
sobre a determinação do nível de emprego, que passou a negligenciar as teorias
das flutuações cíclicas, verifica-se que o ressurgimento, nas últimas décadas
do século XX, do interesse por parte dos pesquisadores sobre os ciclos
econômicos mostra-se extremamente importante. Entender as razões do movimento
ondulatório das economias de mercado e procurar precaver-se contra ele é um dos
principais desafios da pesquisa macroeconômica e da formulação de políticas de
estabilização.
O entendimento e mensuração do comportamento dos ciclos de
negócios têm sido, em anos recentes, objeto de suma importância nas economias
avançadas. Na verdade, qualquer sociedade moderna possui interesse em conhecer
qual é “o estado atual da economia” e qual deverá ser esse estado em um futuro
próximo. Indivíduos e empresários, devido a melhor planejamento e à
rentabilidade de seus investimentos; e governo, por questões previdenciárias,
orçamentárias, fiscais e até mesmo intervencionistas, todas questões fruto de
políticas públicas, têm interesse no assunto.
Esse trabalho se incumbe de tecer uma visão geral sobre
o estudo dos ciclos econômicos através de diversas correntes teóricas e dos
principais economistas. Inicia-se tratando da questão da periodicidade dos
ciclos. Tem-se a seguir uma breve caracterização das duas vertentes teóricas
sobre o estudo das flutuações cíclicas. Na seqüência, busca-se entender
historicamente a ascendência, quase extinção e retomada do estudo dos ciclos
priorizando os estudos dos principais economistas e posteriormente, das
principais escolas econômicas, atendo-se ainda, a alguns fatos estilizados. Por
último, apresenta-se a conclusão permitida por esta resenha teórica.
2 - Periodicidade dos Ciclos
Inicialmente,
a hipótese de que as fases de expansão e contração da economia se sucediam de
forma repetitiva era reforçada também pela hipótese de que a duração dos ciclos
era bastante regular, chegando-se a uma classificação dos ciclos em curtos e
longos. O ciclo curto era identificado como decenal, porque aproximadamente a
cada dez anos a economia inglesa passava por um ciclo completo de expansão,
contração e recuperação econômica. Este ciclo foi denominado de Juglar, em
honra a Clement Juglar. E os ciclos longos, denominados de Kondratieff, eram
estimados com uma duração entre cinqüenta a sessenta anos.
Schumpeter (1935) ressaltou que o termo
"ciclo", estatisticamente, possui duas implicações: primeiro, as
seqüências de valores das quantidades econômicas no tempo histórico não determinam
acréscimos ou decréscimos uniformes, mas sim, recorrentemente de forma
irregular; segundo, essas flutuações não ocorrem de forma independente em todas
as séries temporais envolvidas, havendo associação entre elas. Assim, ele
aceitava a periodicidade dos ciclos envolvendo uma nomenclatura bastante
característica. O estudo das "ondas longas" motivou vários
economistas, entre eles Kondratieff, que inicialmente direcionou para a
possibilidade de existência dos ciclos longos de cinqüenta ou sessenta anos (ciclo
Kondratieff). Entretanto, há pesquisas econômicas que evidenciam a existência
de ciclos com uma duração mais curta, de aproximadamente quinze a vinte e cinco
anos. O estudo pioneiro que sugere a existência dessas ondas intermediárias foi
realizado por Simon Kuznets, e, portanto, devido a esse economista o ciclo foi
denominado de ciclo Kuznets. Outra possibilidade de duração dos ciclos
consolidada pela literatura são as ondas curtas de oito a onze anos,
aproximadamente, denominado de ciclo de Juglar. Existindo ainda uma outra
hipótese, de que cada ciclo de Juglar contém três ciclos Kitchen.
Schumpeter via o processo cíclico
dividido em quatro fases: prosperidade, recessão, depressão e renovação,
enfatizando que essas fases são importantes para a datação e o acompanhamento
dos ciclos, o que não deve ser feito apenas de pico a pico ou de vale a vale.
Considerava fundamental iniciar a datação com a fase de prosperidade, logo após
a renovação, sendo essencial distinguir entre renovação e prosperidade, porque
as "forças" que atuam na renovação são inteiramente diferentes das
"forças" que atuam na prosperidade.
Conforme Mitchell (1984), a existência dos ciclos mostrava-se
claramente uma questão empírica, assim uma teoria que pretendesse justificar um
processo cíclico não podia admitir interrupções ou depender de choques exógenos
que levassem a um modo ondular de adaptação. Ele mostrou que, mesmo para as
economias capitalistas do século XIX, não havia evidência de ciclos de duração
regular, a partir da medição de vale a vale para a economia americana, entre
1812 a 1920. Para o período de 1890 a 1910, os Estados Unidos tiveram cinco
períodos de reativação econômica, precedidos de períodos de depressão: meados
do verão de 1891, primavera de 1895, meados do verão de 1897, outono de 1904 e
inverno de 1908/09. Assim como na Inglaterra, França e Alemanha também
ocorreram períodos semelhantes em 1895, 1904/05 e 1909.
Valendo-se das diretrizes
colocadas por Burns e Mitchell, o National Bureau of Economic
Research (NBER) utiliza-se do conceito de ciclo econômico como movimentos
de crescimento e decrescimento da atividade agregada, mais precisamente no
produto e emprego agregado, em que mudanças no produto devem-se a mudanças no
emprego, naturalmente havendo a possibilidade de o produto sofrer mudanças sem
que haja mudanças no emprego. Uma definição clara dos ciclos é que são
flutuações de curto prazo observadas na atividade econômica, sem que haja uma
regularidade determinada por ciclos de maior ou menor amplitude. Os ciclos diferem
em duração e em amplitude em que algumas depressões são moderadas, outras
severas, algumas fases de expansão são intensas, outras mais suaves. Segundo Burns & Mitchell
(1946:3) "business cycles vary from more than one year to ten or
twelve years and are not divisible into shorter cycles of similar
character with amplitudes approximating their own".
Estudos mais recentes sobre os
ciclos econômicos ou de negócios também abandonaram esta percepção de duração
constante, contestável empiricamente, em favor da ênfase na repetição de
movimentos como característica definidora dos ciclos.
3 - Os Estudos Empíricos e as Vertentes Teóricas
Conforme Galbraith (1989), uma característica
singular e significativa do sistema clássico é a ausência de uma teoria das depressões,
pois as causas relevantes eram excluídas pela sua própria natureza. O
equilíbrio ao qual a economia estava adaptada era o equilíbrio com pleno
emprego – o fim ao qual todas as oscilações de preços e salários
inevitavelmente levavam. E havia a Lei de Say, que claramente especificava que
não poderia existir uma escassez de demanda. Ora, uma depressão é uma ocasião
em que as mercadorias se acumulam por falta de compradores. Assim, dentro do
arcabouço teórico em que prevalecia a Lei de Say, havia pouco espaço para o
estudo dos ciclos e, conseqüentemente, das depressões. Isso não significa dizer
que nos anos precedentes à Grande Depressão o ciclo econômico não fosse
estudado. Era. Porém, o seu estudo não constituía parte do cerne do pensamento
econômico. E não havia também um acordo quanto às causas dessas flutuações.
Assim, estudos importantes sobre os ciclos econômicos eram realizados por
Mitchell. Ele não possuía qualquer laço clássico, concluindo que todo ciclo
econômico era uma série única de acontecimentos cuja explicação era também
única.
Desde os
primeiros trabalhos sobre os ciclos econômicos, os estudiosos podem ser
classificados em dois grupos, dependendo da natureza do trabalho executado. Por
um lado, havia os estatísticos econômicos, normalmente membros de alguma
instituição dedicada ao acompanhamento de conjuntura, com a função de descrever
flutuações efetivamente observadas. Burns e Mitchell, juntamente com o NBER,
são as referências mais conhecidas, mas havia instituições similares na Inglaterra,
Polônia e Rússia. Para estes economistas, as teorias dos ciclos eram
importantes apenas na medida em que pudessem resultar na identificação de novas
fontes de dados a serem investigados.
Por outro
lado, existiam os economistas que se preocupavam com o estudo dos ciclos
econômicos de forma puramente teórica. Essas teorias objetivavam identificar o
princípio dos fenômenos cíclicos, buscando origem e causa para os ciclos
econômicos. Despontaram assim duas abordagens fundamentais sobre a natureza dos
ciclos econômicos. A primeira trabalha com o conceito de que os ciclos são
oscilações intrínsecas a uma economia capitalista, como uma série de fenômenos
que seguem uma determinada ordem. Estas oscilações nasceram com o capitalismo,
não podendo ser eliminadas sem que o próprio sistema passe por mudanças
profundas, sendo uma forma da evolução natural da economia capitalista. A
economia encontra-se em constante mudança, em que as crises não podem ser
consideradas de forma ocasional. O estado “normal” da economia é esperar que
ultrapassada a fase de crise, cada ciclo se renove através de fases sucessivas
de depressão, reanimação e auge, que irá acarretar a crise seguinte, a partir
da qual se origina novo ciclo.
Os modelos teóricos que
representam essa visão são aqueles conhecidos como de acelerador/multiplicador.
Há muitas variações desses modelos, em que se pode citar como o melhor
representante dessa corrente teórica, o mecanismo que enfatiza a interação do
multiplicador/acelerador (Samuelson, 1939). Esse mecanismo vê apenas os
fatores reais como responsáveis pelas flutuações, entre eles a demanda agregada
e principalmente a instabilidade dos investimentos privados.
Conforme Burns (1952), outro modelo importante
para explicar as flutuações no produto real, foi aquele desenvolvido por Hicks
em 1950, em que ele usou efetivamente o princípio do multiplicador e do
acelerador. O modelo é fundado inteiramente em termos reais: gasto com consumo
é função da renda real e investimento é função da taxa de variação da renda real.
A moeda desempenha um papel puramente passivo, a circulação monetária
automaticamente aumenta durante as expansões e automaticamente contrai durante
o período de queda do ciclo. Entretanto, as depressões são consideradas
intensificadas pelos fatores monetários, enquanto nos períodos de expansão dos
ciclos geralmente estes fatores têm atuado de forma mais branda. O mecanismo
multiplicador foi estabelecido através dos movimentos no consumo, enquanto o
mecanismo acelerador foi estabelecido através dos movimentos no investimento -
exceto certa parte autônoma. Portanto, a teoria do multiplicador e a teoria do
acelerador são duas concepções da teoria das flutuações.
Pode-se citar como outro
representante desses modelos acelerador/multiplicador, o modelo de Kaldor (1940), em que o princípio básico
do multiplicador pode ser entendido como a propensão marginal a consumir menor
do que a unidade, e, o princípio do acelerador pautando-se na hipótese de que a
demanda por bens de capital é função da taxa de variação do nível de atividade,
e não simplesmente do nível de atividade. Essa teoria é essencialmente similar
a outras que explicam os ciclos econômicos como um resultado de operações
combinadas de forças conhecidas como multiplicadoras e da função demanda por investimento.
O princípio básico sob essas teorias está centrado na proposição de que a
atividade econômica tende em direção a um nível em que poupança e investimento
se equivalem. Dessa forma, esses modelos acelerador/multiplicador não podem
conferir nenhum papel essencial à expectativa ou à tomada de decisão. Qualquer
papel deste tipo romperia a regularidade que é proposta como principal aspecto
do ciclo.
A outra abordagem fundamental
sobre a natureza dos ciclos econômicos está postulada nos modelos de propagação.
Em contraste aos modelos precedentes, cada ciclo é visto como único, começando
quando um estado de repouso na economia sofre perturbações advindas de choques
exógenos. E, a absorção desses choques exógenos seria determinante para a
caracterização do fenômeno cíclico de forma ondular.
Segundo Carvalho (1988), os modelos de propagação podem explicar a
regularidade dos estágios de um ciclo específico, mas não a periodicidade de um
processo cíclico. Para explicar uma cadeia de ciclos sucessivos seria necessária
uma teoria adicional que explicasse a fonte dos choques e por qual motivo eles
se repetiriam de uma maneira não regular. Na ausência dessa teoria adicional,
resta a possibilidade de que entre o fim de um ciclo e o início do seguinte
decorra um período de espera indefinidamente longo, diminuindo o poder de
previsão desses modelos. Desse modo, do ponto de vista de uma rigorosa acepção
de processos cíclicos, modelos de propagação seriam incompletos por não serem
capazes de explicar a periodicidade dos ciclos.
A versão mais influente da teoria
dos ciclos por propagação deve-se a Schumpeter
(1939). Em sua teoria, a perturbação exógena é dada por uma inovação, que por
definição envolve expectativa incerta, a qual impacta uma economia que se
encontra supostamente em um estado de repouso, ou, em um estado de equilíbrio
geral, em que os movimentos cíclicos repousam necessariamente entre as
vizinhanças do equilíbrio. Assim, qualquer perturbação pode ter o poder de
gerar oscilações. O curso normal dos acontecimentos apresenta um quadro de
incerteza e irregularidade que pode ser interpretado do ponto de vista da busca
de um novo equilíbrio, ou da adaptação a uma situação geral que mudou de
maneira relativamente rápida e considerável.
Há outros modelos de propagação
da mesma natureza do modelo de Schumpeter. Praticamente todas as teorias
monetárias dos ciclos são teorias de propagação. Friedman & Schwartz
(1963) e Lucas (1975) concebem os
ciclos como a forma pela qual a economia busca se adaptar a choques monetários
exógenos. Também Slutzky (1937)
fez uma tentativa de explorar as propriedades formais de modelos econômicos que
geravam padrões oscilatórios de adaptação a choques exógenos. Segundo ele, como
as ondas do mar não se repetiam de maneira exatamente igual, os ciclos
econômicos também não se repetem de maneira exatamente igual em duração e amplitude. Mais
recentemente, pode-se considerar os trabalhos sobre os ciclos reais de negócios
de Kydland & Prescott (1982) e Long & Plosser (1983); e os trabalhos novo-Keynesianos de Akerlof & Yellen (1985) e Mankiw
(1985).
4 – Os Ciclos e os Economistas
Desde a segunda metade do século
XIX, os economistas se interessaram pelo estudo dos ciclos econômicos, buscando
cada um, à sua maneira, causas e explicações para o fenômeno. Para muitos
destes economistas, sem considerar os grandes desastres financeiros
especulativos que culminaram em graves crises econômicas – como a queda da
Bolsa de Nova York, em 1929, e seus predecessores na História –, o curso normal
da economia parece evidenciar uma sucessão de expansões e contrações, como
ondas sucessivas, em que há alternância entre prosperidade e depressão.
Algumas explicações iniciais sobre o fenômeno dos ciclos de
negócios foram buscar respostas externas ao processo econômico. Segundo Heilbroner (1996), Jevons apresentou uma
teoria baseada em que as flutuações agrícolas representavam a causa fundamental
para os ciclos, em detrimento do papel dos demais setores da economia. Aquele
autor ficou impressionado pelo fato de os ciclos de negócios de 1721 a 1878
possuírem uma duração média aproximadamente igual àquelas apresentadas pelas
manchas solares. Acreditou que a correlação entre os dois fenômenos era muito
próxima para ser considerada simples coincidência. Assim, deduziu um sistema de
causação em que as manchas solares causavam os ciclos climáticos, que eram
responsáveis pelos ciclos das chuvas, que influenciavam o ciclo das colheitas,
que por sua vez, causavam os ciclos econômicos. Dessa forma, Jevons aceitava
que o ciclo econômico era devido, primordialmente, à abundância desigual das
colheitas agrícolas. Entretanto, posteriormente, um cálculo mais cuidadoso dos
ciclos das manchas solares aumentou sua periodicidade e a correlação observada
anteriormente foi rompida.
Assim, a procura por fatores motivadores dos ciclos de
negócios voltou-se para considerações sobre a poupança, já apontada por Malthus
como fonte de “problemas” para a economia, em que as decisões de poupança e
investimento ocorrendo de forma não sincronizada, podem gerar fases de expansão
e contração. Poupança e investimento – parcimônia e empreendimento – são
atividades econômicas que necessitam conexão. A poupança, como qualquer outro
bem, possui um preço, a taxa de juros. Portanto, quando a depressão atingisse seu
ponto máximo, haveria excesso de poupança, o que acarretaria queda no nível da
taxa de juros estimulando os investimentos. Dessa forma, acreditava-se haver um
sistema automático engendrado no próprio ciclo econômico, em que, segundo a
teoria, quando a economia estivesse no auge da contração voltaria a crescer e,
após atingir novo ápice expansivo, iniciaria nova fase de arrefecimento.
O que estaria por trás dessa alternância entre prosperidade
e depressão? A princípio, essa era a preocupação central por parte dos
economistas em relação às causas dos ciclos econômicos, que foram também
considerados como uma espécie de desordem nervosa coletiva, em que os colapsos
periódicos dependiam de variações de expectativa, desapontamento e até mesmo
pânico. Em meio a tantas indagações econômicas sobre as flutuações cíclicas,
segundo Schumpeter (1950), Karl
Marx foi o primeiro a apresentar uma teoria consistente dos ciclos econômicos,
e não somente das crises, embora não o tivesse feito de forma sistemática.
Em “O Capital”, não se encontra
uma exposição ordenada sobre os ciclos econômicos, as referências acham-se
dispersas nessa obra e ainda em outras, como “As Crises Econômicas do
Capitalismo”. O estudo da teoria Marxiana dos ciclos só é possível com a
reunião de todas essas referências, levando-se em consideração que Marx era
opositor à Lei de Say. Para ele, a demanda não necessariamente se iguala à
produção. Mais ainda, a produção tende naturalmente a ser maior que a sua
demanda.
Marx, ao longo de sua obra,
observou aspectos centrais do movimento cíclico e o mais interessante deles,
relaciona-se às crises, recusando a idéia de que a crise cíclica era
desencadeada apenas por efeito de insuficiência de demanda. Pelo contrário, a
crise era devida principalmente a um fenômeno de superprodução capitalista, era
justamente na fase de auge, onde a oferta de trabalho se encontrava no ponto
máximo e os salários estavam no patamar mais alto possível, que antecediam as
crises de maneira imediata. As crises eram devidas a uma superprodução de
capital fixo e, conseqüentemente, portanto, uma superprodutividade relativa do
capital circulante, considerando ambos constituídos por mercadorias.
Levando-se em conta que na
produção capitalista não interessam diretamente os valores de uso, mas sim os
valores de troca e, principalmente o aumento ou diminuição da mais-valia, o
fenômeno das crises pode manifestar-se quando a produção do capital excedente
efetue-se muito rapidamente. Assim, as crises não se seguiam a uma queda de
consumo[1],
pelo contrário, quando ocorria a elevação geral dos salários, com a conseqüente
completa exaustão do exército industrial de reserva, havia uma diminuição da
taxa de mais-valia e, por conseguinte da taxa de lucro, desacelerando e freando
o processo de acumulação de capital. Portanto para Marx, a crise é uma
conseqüência do desequilíbrio verificado entre a produção e o consumo. A
possibilidade geral das crises é a metamorfose formal do próprio capital, a
separação da compra e da venda no tempo e no espaço.
Outros aspectos primordiais do
movimento cíclico foram abordados por Marx. Para ele, a natureza cíclica tem a
sua causa fundamental no impulso irrefutável do capital à sua valorização,
levando-o a chocar-se periodicamente com as barreiras que a própria valorização
cria para o desenvolvimento das forças produtivas. A principal barreira é a da
caracterização da base tecnológica para o movimento cíclico. Essa base
determinaria a periodicidade da renovação do capital fixo, por exigência do
desgaste físico e da obsolescência tecnológica, influenciando a periodicidade
do próprio ciclo.
Essa base tecnológica, mais
especificamente o progresso técnico é a variável relevante para Schumpeter, que
ao contrário de Marx estudou os ciclos de forma ordenada, publicando em 1939, o
livro “Business Cycles”, um tratado
sobre os ciclos econômicos, cujo cerne está contido nas idéias centrais do
capítulo final de seu livro Teoria do Desenvolvimento Econômico, que trata os
ciclos como períodos de prosperidade e recessão econômicas comuns ao processo
de desenvolvimento capitalista.
Schumpeter pesquisa sobre o
capital, o lucro, o crédito, o juro e o ciclo de conjuntura. Ele concebe a
essência do capitalismo em função do empresário. O elemento motriz da evolução
é constituído pelas inovações, fontes de combinações novas das forças
produtivas realizadas pelo empresário e que, ao se propagarem, vão provocar
desequilíbrios. Estes, pelo mecanismo dos ciclos, tendem a novos equilíbrios em
níveis mais elevados e esta prosperidade engendra o lucro, recompensa pelo
trabalho de inovação que recebe o empresário. Não há, portanto, evolução sem
inovação, nem inovação sem empresário, nem empresário sem crédito, nem crédito
sem juro. Em suma, o ciclo econômico considerado em sua evolução natural é
gerado pelas inovações.
Para Schumpeter, a questão
fundamental para os ciclos econômicos era a sua causação, em que ele reconhecia
explicitamente a importância dos fatores externos. “Business Cycles”
descreve os principais ciclos econômicos e o processo inteiro do circuito e do
desenvolvimento. Faz da inovação, a causa única e exógena dos diferentes
ciclos. Os períodos de expansão eram relacionados ao fato de que o empreendedor
inovador, ao criar novos produtos, é seguido por vários outros empreendedores
não inovadores que investem recursos para produzir e imitar os bens criados
pelo empresário inovador. Conseqüentemente, uma onda de investimentos de
capital ativava a economia, gerando prosperidade e expansão do nível de
investimento e de emprego. Na proporção em que as inovações tecnológicas eram
absorvidas pelo mercado e o seu consumo generalizado, a taxa de crescimento da
economia diminuía e se iniciava um processo recessivo com a redução dos
investimentos e do nível de emprego, que se extinguia quando outra inovação recente
começasse a gerar os seus efeitos sobre a economia.
Um dos grandes focos de interesse
da macroeconomia, antes da publicação do livro Teoria Geral do Emprego, do Juro
e da Moeda (1936) de Keynes, consistia no estudo das flutuações recorrentes de
várias séries macroeconômicas ao redor daquilo que poderia ser considerada a
sua tendência de longo prazo, assim como o fato de que essas flutuações seriam
correlacionadas. Esse fenômeno dos ciclos econômicos atraiu a atenção de vários
economistas, entre eles Burns
& Mitchell (1946), que
buscavam desde uma definição apropriada para o ciclo e sua documentação até o
estudo do relacionamento entre as séries durante cada ciclo, procurando
indícios sobre suas causas. Para eles, o ciclo econômico, não somente é uma
flutuação na atividade econômica agregada, mas também consiste em expansões
ocorrendo ao mesmo tempo em diversos setores da economia, seguida por similares
recessões, contrações e ressurgimento, que se inicia com a fase de expansão do
próximo ciclo.
Para Mitchell (1984) todo o ciclo econômico, a rigor, é
constituído de uma serie única de acontecimentos e tem uma única explicação,
porque é fruto de uma série de acontecimentos anteriores, igualmente únicos. Schumpeter
(1950) acredita que o ponto de vista de Mitchell sobre a análise dos ciclos de
negócios surge como um primeiro passo em direção a uma análise mais próxima da
realidade do processo econômico em geral. Segundo ele, Mitchell criou esforços
não simplesmente em direção ao fenômeno cíclico por si só ao construir um
sistema de indicadores antecedentes para a atividade econômica, mas sim em
direção a uma nova economia, mais ainda, a uma nova teoria econômica, inspirada
pelas idéias desenvolvidas nos estudos das flutuações dos ciclos.
Dessa forma, à época em que a
Teoria Geral foi escrita, havia uma vasta literatura sobre os ciclos
econômicos, utilizando-se da análise dinâmica[2]. O
próprio Keynes, na Teoria Geral, no capítulo dedicado aos ciclos econômicos,
sugeriu: ...“que o caráter essencial do ciclo econômico e, sobretudo, a
regularidade de ocorrência e duração, que justificam a denominação ciclo,
deve-se principalmente ao modo como flutua a eficiência marginal do capital”...
e ....“o ciclo econômico deve, de preferência, ser considerado como o resultado
de uma variação cíclica na eficiência marginal do capital, embora complicado e
freqüentemente agravado por modificações que acompanham outras variáveis
importantes do sistema econômico no curto prazo.” Entendendo-se que em Keynes,
a eficiência marginal do capital dependia da relação entre o preço de oferta de
um ativo de capital e a sua renda esperada.
Entretanto, embora existindo um capítulo sobre
esse assunto na Teoria Geral, a distinção conceitual entre expectativas de
curto e de longo prazo, proposta nesse livro, levou a uma reavaliação sobre a
relevância da teoria dos ciclos.
Segundo Carvalho (1988), é sugerido muitas vezes na Teoria Geral que
os ciclos sejam uma questão de adaptação, mais do que um mecanismo autônomo
operando continuamente. Keynes estava mais interessado nos próprios impulsos
originários das ondas cíclicas do que, propriamente, nas ondas de propagação.
Isso o permitiu explorar as condições em que o equilíbrio final comporta
desemprego involuntário à medida que o estado de expectativas de longo prazo
determine um nível de demanda efetiva eficiente. Assim, o desemprego deixou de
ser um aspecto da trajetória rumo ao equilíbrio e passou a ser parte do próprio
equilíbrio. Dessa forma, apoiado em uma noção de expectativas e de incerteza mais
desenvolvida, Keynes separa com clareza a geração de impulsos e dos mecanismos
pelos quais estes impulsos se expandiam pela economia. O mecanismo de
propagação perde importância por razões básicas: a ênfase passa a ser dada à
vulnerabilidade da economia a choques exógenos, entre os quais se encontra a
mudança nos estados de expectativas de longo prazo. Concluiu que mesmo os
estados terminais de equilíbrio podem ser caracterizados pela existência de
desemprego e capacidade ociosa. É a descoberta do “equilíbrio com desemprego”
que define a novidade para a teoria econômica.
Também é interessante verificar
que Keynes tratava o fenômeno da crise como uma característica do ciclo
econômico, onde a substituição de uma fase ascendente por outra descendente,
geralmente ocorria de modo repentino e violento (crise), ao passo que, a
transição de uma fase descendente para uma ascendente não se dava de forma
abrupta, mas sim gradualmente. O investimento real era considerado autônomo e
as flutuações nas decisões de formação de capital eram a origem dos ciclos
econômicos. Isso implica que existem mudanças autônomas nas proporções da
vontade do público em alocar sua riqueza entre os diferentes ativos
disponíveis. Assim, durante as expansões de investimento, o capital se tornava
mais atrativo em relação a títulos e moeda; ao passo que, durante as contrações
do investimento ocorria o inverso.
Portanto, para Keynes, a chave
para a compreensão dos movimentos cíclicos estava nas flutuações do nível de
investimento. De acordo com ele, investimento significava aquisição de
equipamentos do setor produtor de bens de capital, ampliação da capacidade
produtiva e, finalmente, expansão da produção corrente de bens de capital. Não
significava, por outro lado, aquisição de bens físicos ou financeiros
pré-existentes e não-reproduzíveis pelo sistema econômico, como a terra.
Michal
Kalecki, também considerava o investimento como a variável realmente
estratégica para o estudo dos ciclos. Para ele, é esta variável que determina o
nível da renda nacional num dado ano e suas variações (ciclos e crescimento) no
decorrer do tempo.
Kalecki
(1937), reduzindo as expectativas a uma variável corrente, passou a considerar
o ciclo inteiramente baseado nas relações entre variáveis objetivas, como:
lucros realizados; investimento realizado; demanda realizada; renda recebida;
entre outras. O excesso das decisões de investimento sobre o investimento em um
dado período causava a auto-estimulação do aumento do investimento. Esse
aumento, entretanto, conduzia a uma posição em que o investimento cessava o seu
crescimento, mantendo-se em um nível constante. A manutenção desse nível
constante produzia um equilíbrio estável, sendo o investimento, a variável que
propiciava essa estabilidade. Assim, quando o investimento era maior do que o
nível de manutenção da capacidade produtiva ocorria expansão na economia; mas,
quando o investimento estava abaixo da manutenção da capacidade produtiva,
verificava-se uma retração. Quando atingia o ponto em que o investimento
igualava a taxa de decisão de investimento, esse declínio verificado na
economia cessava e se iniciava um processo de aumento das decisões de
investimento tendendo a incrementar o processo cumulativo. Assim, o processo
dinâmico consistia em uma série de subidas e descidas seqüenciais do processo
cumulativo. Em outras palavras, havia a ocorrência dos ciclos econômicos.
Kalecki expôs ainda uma causa
para as crises periódicas. O fato é que o investimento não é referente apenas
ao que foi produzido, mas também ao que se está produzindo. O investimento é
considerado como um gasto capitalista que origina prosperidade, e o seu aumento
melhora a economia, o que, por sua vez, estimula novos aumentos dos gastos com
investimento. Porém, ao mesmo tempo em que o investimento é uma adição ao
equipamento de capital corrente, o seu nascimento é muitas vezes concomitante à
obsolescência do equipamento antigo. Entretanto, o descasamento entre
nascimento e obsolescência do investimento causa as crises econômicas. Assim,
segundo Kalecki não se deve considerar essa teoria como paradoxal, mas sim, o
paradoxo se encontra dentro da própria economia capitalista.
Para
Kalecki (1954), as economias
capitalistas geralmente se desenvolvem dentro de um padrão cíclico. Elas se
expandem, mas com flutuações periódicas. Assim, a produção ao longo do tempo
pode ser representada como um movimento ondulatório. Mas, apesar das
flutuações, a produção continua a crescer, ou seja, o movimento ondulatório se
dá em torno de uma tendência crescente. Este movimento ondulatório em torno da
tendência refere-se a duas questões de “dinâmica macroeconômica”, onde as
mudanças cíclicas são os movimentos ondulatórios e a tendência é o crescimento
da renda.
Ele distingue ainda, as
flutuações explosivas e amortecidas. Tomando primeiramente o caso das
flutuações explosivas, era evidente que, devido à amplitude crescente das
flutuações, o investimento, durante as fases de prosperidade, teria que, mais
cedo ou mais tarde, atingir o ponto mais alto. Depois disso, viria uma depressão,
cuja recuperação levaria novamente o investimento ao nível do “teto”, e assim
por diante. No caso das flutuações amortecidas, a amplitude iria declinar
continuamente, de forma que poderia parecer que o ciclo iria diminuindo até
tornar-se insignificante. Contudo, isso não ocorreria na realidade, pois as
relações entre o investimento, os lucros e a produção são “estocásticas”, isto
é, sujeitas a perturbações aleatórias.
A problemática dos
ciclos, relacionada com os determinantes do investimento, exigiu grande esforço
de Kalecki. A equação dos determinantes do investimento consta dos seguintes
fatores: poupança interna bruta das empresas, o aumento dos lucros e o aumento
do estoque de capital fixo. Daí se deriva a equação Kaleckiana do ciclo
econômico. Entretanto, para obter a tendência, ele é obrigado a introduzir um
novo fator: as inovações tecnológicas. E, a partir daí, para Kalecki o
progresso técnico passa a ser o principal determinante do investimento.
5 - Os Ciclos e as Escolas Econômicas
Existem diversas explicações para
as flutuações cíclicas na atividade econômica, fatores monetários, fatores
reais ou a sua interação. Explicações puramente monetárias assumem que o
sistema econômico real é inerentemente estável e que a instabilidade é
introduzida pela má administração do controle de moeda. Expoentes dessa teoria
são Irving Fisher e R.G. Hawtrey. Antes da grande depressão era comumente
aceito interpretar os ciclos econômicos essencialmente como um fenômeno
monetário, "a dance of the dollar", como Fisher
(1923) descreveu. Fisher defendia que a instabilidade cíclica é introduzida
pela instabilidade monetária que se pauta nas variações do poder de compra da
moeda. Hawtrey acreditava que o mecanismo dinâmico da economia consiste nas
interações defasadas da circulação de moeda, política creditícia dos bancos e
mudanças de curto prazo na taxa de juros induzindo alterações nos
investimentos.
Segundo Friedman (1959), durante os
ciclos econômicos nos EUA, para o período de 1870 a 1954, o estoque de moeda geralmente
aumenta durante as expansões a uma taxa abaixo da renda monetária e, durante as
contrações, cai a uma taxa abaixo da renda monetária. Por sua vez, a velocidade
da moeda aumenta durante as expansões cíclicas assim como a renda real aumenta;
e cai, durante as contrações cíclicas como a renda real cai - precisamente o
oposto da relação temporal entre renda e velocidade. Para reconciliar o
procedimento cíclico e temporal da velocidade de circulação da moeda, ele
concentrou a explicação em outras variáveis, como a taxa de juros ou a taxa de
variação dos preços. A mensuração da velocidade possui um componente cíclico
padrão em sincronismo com os ciclos econômicos, tendendo a aumentar quando a
fase do ciclo é expansiva, do vale para o pico; e, tendendo a cair quando o
ciclo está em sua fase de retração, do pico para o vale. Porém, quando esse
comportamento padrão é corrigido pelo desvio da mensuração da renda em relação
à renda permanente, esse movimento residual é bastante diferente, sendo
necessária a sua explicação.
Friedman & Schwartz (1963) procuraram estabelecer um papel
independente para a moeda, comparando as taxas de crescimento monetário e os
pontos de reversão do nível de atividade econômica para os EUA. Computando os
ciclos desde 1867 até 1960, não provenientes de guerras, eles encontraram que
os picos e os vales da taxa de variação da oferta de moeda precediam os picos e
os vales do nível de atividade econômica em média de 12 a 16 meses, concluindo
que existem fortes evidências de uma influência causal da moeda para os ciclos
econômicos. Apesar de sofrerem algumas críticas como: mudanças monetárias e
cíclicas podem ser resultado de outras forças que exercem influência sobre a
moeda e mais especificamente sobre a atividade cíclica; e, segundo Culbertson (1960
e 1961), não existe uniformidade entre defasagens e antecedências das mudanças
monetárias sobre as mudanças no nível da atividade econômica. Esses autores,
estudando as circunstâncias históricas que norteiam as alterações ocorridas na
oferta de moeda, argüiram que as mudanças monetárias podem ser vistas como uma
causa e não como uma conseqüência das maiores recessões na economia americana.
Outras
escolas, Sueca e Austríaca, que explicam o ciclo por fatores monetários começam
com a distinção de Wicksell sobre a taxa de juros de mercado e a taxa natural
de equilíbrio. Entretanto, ao discutir o ciclo econômico propriamente dito, ele
excluiu a influência dos sistemas monetários e de crédito sobre as crises.
Wicksell não desenvolveu uma teoria puramente monetária do ciclo, mas
influenciou outros economistas como Mises e Hayek, que acreditavam que a causa
inicial do ciclo está fundada no lado monetário, especificamente na oferta de
moeda, onde um excesso de oferta de crédito deprime a taxa de juros de mercado
abaixo do nível de equilíbrio, desencadeando o processo cumulativo Wickselliano
que necessariamente termina em crise e depressão.
As interpretações para os ciclos
de negócios, de acordo com a hipótese da estabilidade implícita, estão
embasadas em dois grupos principais, em que o primeiro assume que a economia se
encontra em equilíbrio instável e o segundo assume que as relações de mercado
são estáveis. Proponentes do primeiro grupo admitem os movimentos cíclicos como
uma conseqüência de um distúrbio inicial que movimenta o processo cumulativo
até certos limites estabilizadores que revertem a direção do movimento
cumulativo. A análise Wickselliana para taxa de juros é considerada um exemplo
desse grupo. Para o segundo grupo, por outro lado, movimentos no produto e
emprego representam um processo de adaptação às mudanças cíclicas nos
parâmetros do sistema que são considerados estáveis (Metzler, 1941).
Entre os representantes da escola
Sueca, Wicksell foi o primeiro a mostrar que a influência exercida pela moeda
sobre os preços atua através da taxa de juros e, dessa maneira, sobre o
restante da economia. A teoria de Wicksell repousa sobre as relações entre a
moeda, a taxa natural de juros e o movimento do nível geral dos preços, sendo
estabelecida uma diferença entre a taxa natural e a taxa efetiva de juros. Essa
taxa natural se identifica ao lucro antecipado resultante do uso de um
empréstimo monetário e representa o rendimento monetário que os empreendedores
acreditam obter do investimento. Quanto à taxa efetiva – ou taxa de mercado ou
bancária – é aquela recebida pelos credores institucionais.
Quando os bancos ou credores
emprestam a taxas superiores ou inferiores à taxa natural, o equilíbrio
econômico é destruído. Somente sendo restabelecido quando o seguinte mecanismo
atuar: quando a taxa de juros efetiva for inferior à taxa natural, haverá
diminuição de poupança, os empreendedores aumentarão a produção, o que
acarretará um aumento do capital de investimento. Essas despesas de capital
aumentadas provocam uma elevação do nível dos preços. O processo inverso ocorre
no caso de uma elevação da taxa de juros efetiva superior à taxa natural. Nesse
caso, os empreendedores não estão dispostos a investir, pois a produtividade do
capital seria inferior ao seu custo, resultando perdas. Assim, sempre existe
uma taxa média de juros, fazendo com que o nível geral de preços tenha uma
tendência à alta ou à baixa. Portanto, para Wicksell, o equilíbrio monetário
provém da igualdade entre a taxa natural e a taxa efetiva de juros.
Myrdal, outro expoente da escola
Sueca, propôs a renovação e complementação do conceito de equilíbrio monetário
Wickselliano, empenhando-se em revelar as tendências da atividade econômica
orientadas para a alta ou para a baixa. A contribuição original de Myrdal está
essencialmente na inclusão das antecipações no sistema monetário, introduzindo
os conceitos de ex-ante e ex-post, para distinguir, na análise de
um processo econômico delimitado no tempo, as ações projetadas no início do
período daquelas adotadas no fim, reconhecendo implicitamente que uma economia
monetária é uma economia onde a variação das idéias sobre o futuro,
especialmente a variação das expectativas de preços, pode influir no volume
atual do emprego. Dessa forma, chega a uma definição dinâmica da igualdade
keynesiana entre poupança e investimento, introduzindo de forma indireta o
elemento das expectativas na análise econômica.
Este autor apresentou de forma
sistematizada o processo da causalidade circular e cumulativa[3],
em que uma unidade territorial, seja região ou nação, rica e desenvolvida,
exerce sobre as outras unidades territoriais duas espécies de efeitos: 1)
efeitos de propagação, que tendem a se propagar dos centros em expansão para as
outras unidades, incitando o progresso técnico; 2) efeitos de perturbação –
pelos quais movimentos de população, de capitais, de comércio e outros são
aspirados pelas unidades vizinhas em crescimento, constituindo, entre as
unidades estagnadas, elementos de perturbação. Assim, sustenta-se a tese das
disparidades crescentes entre países desenvolvidos e subdesenvolvidos, em que a
interdependência é expressiva entre os fatores sociais e econômicos, onde uma
modificação em qualquer fator terá efeito sobre os outros, podendo ocasionar as
flutuações cíclicas da economia.
A escola Austríaca concentra a
explicação para os ciclos econômicos na moeda, na estrutura do capital e nas
falhas de coordenação. Mises
(1943) acreditava que a expansão de crédito é um dos fatores fundamentais para
a determinação dos ciclos, mas não pode ser considerado o único. Segundo ele,
não é concebível considerar uma economia em um estágio de prosperidade
duradoura, pois qualquer evento, mesmo que não seja um fenômeno de crédito ou
puramente monetário, pode alterar essa fase de expansão econômica.
Garrison
(1999) considera os ciclos econômicos como parte inerente do processo de
mercado. Tanto os pontos de reversão do vale para o pico, quanto do pico para o
vale podem ser vistos como endógenos concebendo os ciclos como econômico-rítmicos
e podem ser vistos como exógenos ao serem concebidos como desequilíbrios
monetários. As teorias dos ciclos econômicos são categorizadas sob as bases da
exogeneidade (X) ou endogeneidade (N). No total podem ser observadas quatro
categorias que podem ser simbolizadas da seguinte forma: X/X, X/N, N/X e N/N,
em que X/X são as teorias do desequilíbrio monetário e N/N, as teorias
econômico-rítmicas. A teoria Austríaca dos ciclos econômicos pode ser
enquadrada dentro da categoria X/N. A exogeneidade do ponto de reversão do vale
para o pico é claramente reconhecida como um distúrbio imposto ao processo,
constituindo um aspecto inevitável das economias de mercado. A endogeneidade
dos pontos de reversão do pico para o vale é dada pela ciclicidade dos movimentos
nos preços e quantidades macroeconômicas. Portanto, a visão Austríaca dos
ciclos econômicos está pautada nos econômico-rítmicos e mais ainda no
desequilíbrio monetário de preços. Essa integração da teoria monetária com a
teoria do capital envolvendo seqüências dos estágios de produção coordenados
intertemporalmente pelo mecanismo de mercado provê um aspecto teórico e uma
relevante base histórica para o entendimento dos ciclos econômicos.
Durante e até muitos anos após a
grande depressão de 1929/33, muitos economistas estavam ativamente engajados na
pesquisa dos ciclos econômicos. Entretanto uma das importantes conseqüências da
revolução Keynesiana foi o direcionamento da pesquisa macroeconômica para
questões referentes ao nível de produto em um dado período de tempo, relegando
a segundo plano a evolução dinâmica da economia ao longo do tempo. O principal
problema da teoria dos ciclos econômicos passou a ser como encontrar uma
solução que permitisse incorporar o fenômeno cíclico dentro de um sistema teórico
de equilíbrio econômico. Enquanto economistas Keynesianos argumentavam que uma
teoria dos ciclos econômicos era inatingível, Lucas
(1975) conseguiu demonstrar que havia possibilidade de desenvolver um
equilíbrio considerando a instabilidade agregada.
Conforme Lucas (1975), a hipótese de assimetria de informação explica
as flutuações no produto e no emprego. Os choques aleatórios de demanda
agregada não antecipados, resultantes principalmente de variações não
antecipadas na oferta de moeda, afetam a economia causando erros. Esses erros
ocorrem devido aos trabalhadores e às empresas possuírem informação imperfeita
do mercado, confundindo mudanças nos preços gerais com mudanças nos preços
relativos e reagindo com alterações na oferta de trabalho e produto, respectivamente.
A hipótese de expectativas racionais implica que esses erros expectáveis serão
essencialmente aleatórios. Tem-se ainda que a combinação da hipótese de
expectativas racionais com alterações não antecipadas na oferta de moeda
implica que produto e emprego flutuam de forma aleatória em torno de seus
níveis naturais. Portanto, os ciclos em Lucas
são monetários e decorrentes de erros de percepção por parte dos agentes
econômicos.
A escola novo-clássica, cujo
autor pioneiro é Robert Lucas, inclui entre os seus principais adeptos Thomas
Sargent, Robert Barro, Edward Prescott. Inicialmente a macroeconomia
novo-clássica era vista como uma variante do monetarismo combinada com a noção
de que os mercados de trabalho e de capital possuem pleno ajustamento.
Entretanto, mais recentemente verifica-se uma associação com o pensamento
predominante dos teóricos dos ciclos reais de negócios, em que os fatores reais
do lado da oferta (em detrimento dos fatores monetários) são os elementos que
explicam a instabilidade agregada, provocando as flutuações cíclicas. A visão
prevalecente aceita que os ciclos econômicos emergem devido a erros aleatórios
nas expectativas de lucro dos investidores ou devido a mudanças exógenas
tecnológicas que geram flutuações no emprego, ou ainda, devido a choques de
demanda inesperados, administrados por políticas governamentais ou externas.
Assim, autores como Lucas e
Prescott foram responsáveis por uma renovação do interesse dos estudos sobre os
ciclos econômicos, além de enfatizarem a necessidade da utilização de modelos
de equilíbrio geral como ferramenta para seu estudo. Uma crítica de Lucas aos
modelos econométricos que vinham sendo usados para estudar os ciclos residia no
fato de que, apesar de possuírem boa aderência aos dados, as regras de decisão
obtidas por esses modelos não eram alheias às alterações de políticas
econômicas que esses mesmos modelos eram utilizados para avaliar. Dessa forma,
modelos econômicos que partissem de padrões tecnológicos com fundamentos micro
– nos quais o comportamento dos indivíduos e firmas fosse derivado de um
comportamento maximizador – deveriam apresentar melhores resultados em relação
àqueles em que o comportamento dos agentes fosse feito de acordo com políticas
macroeconômicas.
Durante a década de 1970, com o
ressurgimento do interesse pela pesquisa dos ciclos econômicos, houve uma
preocupação com o estudo das propriedades estatísticas das séries temporais. Um
dos principais problemas referente a esses estudos era a separação entre
tendência e ciclo. Entretanto, economistas Keynesianos, monetaristas e
novo-clássicos aceitavam um consenso a respeito da macroeconomia: as flutuações
no produto agregado eram vistas como desvios temporários em torno da tendência
de crescimento da economia; a instabilidade agregada na forma de ciclos
econômicos era assumida como socialmente indesejável, pois reduziam o bem estar
econômico; a taxa de crescimento da oferta de moeda produz efeitos reais sobre
a economia e desempenha um importante papel na explicação das flutuações do
produto.
Mesmo havendo uma concordância
sobre vários aspectos dos ciclos econômicos entre essas correntes teóricas, não
há convergência sobre a maneira como essa instabilidade pode ser reduzida.
Assim, referente à política de estabilização da economia, Keynesianos defendem
que desvios severos e prolongados[4]
justificam a necessidade de uma ação corretiva por parte do governo, enquanto
monetaristas e principalmente novo-clássicos rejeitam uma política de
estabilização ativa em confiança no poder de equilíbrio
das forças de mercado.
A transição
da explicação dos ciclos econômicos através de fatores monetários para fatores
reais foi estimulada por dois importantes acontecimentos. Os choques de oferta
associados aos dois aumentos excessivos do preço do petróleo, durante a década
de 1970, promovidos pela Organização dos Países Exportadores de Petróleo
(OPEP), levaram os economistas a dar maior ênfase aos fatores do lado da oferta
para explicarem a instabilidade econômica. A falha aparente dos modelos Keynesianos,
orientados pela demanda, para explicar adequadamente o aumento do desemprego
acompanhado pelo processo de aceleração da inflação. Esses acontecimentos
desencadearam um esforço em pesquisas para a construção de teorias econômicas
que priorizassem o lado da oferta (teoria dos ciclos reais de negócios) e que
explicassem a macroeconomia através de micro-fundamentos, teoria novo-clássica
e mais recentemente, teoria novo-Keynesiana.
Assim,
desde o início da década de 1980 até mesmo a explicação novo-clássica para a
instabilidade da atividade econômica passou a priorizar fatores reais em
detrimento dos choques exógenos monetários. O resultado desses estudos sobre as
flutuações cíclicas culminou com a teoria dos ciclos reais de negócios.
Kydland
& Prescott (1982) apresentaram
um modelo de equilíbrio geral dinâmico com o objetivo de estudar os ciclos
econômicos, considerando que os choques de produtividade seriam responsáveis
pela geração do ciclo. Esses choques seriam propagados para o restante das
variáveis econômicas por regras de decisão, obtidas através do comportamento
maximizador das famílias e das firmas. Entretanto, para Lucas, como os ciclos
afetam praticamente a maioria dos setores econômicos, uma escolha lógica para o
fato gerador do ciclo seria um choque que atingisse todos os setores. Dessa
forma, era descartada a hipótese de que os ciclos econômicos fossem causados
somente por choques tecnológicos. Segundo ele, esse tipo de choque
influenciaria positivamente algumas firmas e negativamente outras, sendo
improvável que ocorresse um efeito agregado relevante.
Segundo Eichenbaum (1991), a teoria dos ciclos reais de negócios pode
ser considerada como falácia e conhecimento. É falácia no sentido de que o
papel singular que os choques tecnológicos representam nas flutuações cíclicas
da economia é contestável empírica e teoricamente. É conhecimento na medida em
que se pode utilizar vários de seus modelos, em que os choques tecnológicos
desempenham algum papel na determinação dos ciclos econômicos, para quantificá-los
de forma a obter bons resultados.
Mesmo sendo alvo de várias
críticas teóricas, a escola dos ciclos reais de negócios proliferou e
atualmente há inúmeros modelos macroeconômicos fundamentados em suas premissas
básicas. Os trabalhos pioneiros podem ser considerados os de Kydland & Prescott (1982) e Long
& Plosser (1983). A teoria dos
ciclos reais de negócios, buscando uma aproximação entre crescimento e
flutuações econômicas, baseia-se na hipótese de que existem distúrbios
aleatórios na taxa do progresso tecnológico, considerando que essas flutuações
são respostas Pareto eficientes aos choques que afetam a função de produção,
resultantes de mudanças tecnológicas. Esses choques determinam flutuações no
produto agregado e emprego, tal como indivíduos racionais respondem à alteração
na estrutura de preços relativos devido a mudanças na oferta de trabalho e
decisões de consumo. Assim, essa teoria postula que mesmo que não aja
assimetria de informação capaz de produzir os ciclos monetários, os choques
reais garantem o ciclo.
Os teóricos dos ciclos reais de
negócios distinguem entre mecanismos de impulso e de propagação. O mecanismo de
impulso corresponde ao choque inicial que desvia a variável de sua tendência de
longo prazo. O mecanismo de propagação consiste na força que faz com que os
efeitos gerados pelo choque persistam ao longo do tempo. Assim, flutuações no
produto agregado e emprego são influenciadas por alterações aleatórias na
tecnologia disponível, sendo que os mecanismos de propagação conduzem o impacto
inicial do impulso (Kydland & Prescott, 1982).
Outro trabalho seminal
relacionado à teoria dos ciclos reais de negócios foi o de Nelson
& Plosser
(1982), no qual sugeriram que os choques reais são mais importantes que os
choques monetários para explicar o caminho do produto agregado ao longo do
tempo. Esses autores defenderam que a evidência empírica é consistente com a
proposição de que o produto segue um caminho que pode ser descrito de forma
melhor como random walk. Concluíram que os modelos macroeconômicos, que
enfatizam os distúrbios monetários como a origem das flutuações puramente
transitórias do produto, não conseguem obter êxito em explicar uma larga fração
da variação no produto. Ademais, argumentaram que a variação estocástica devida
a fatores reais deve constituir um elemento essencial de todo modelo de
flutuações macroeconômicas.
Embora os modelos mais antigos de
ciclos reais de negócios não incluam o setor monetário, King &
Plosser (1984) explicaram a associação histórica entre moeda
e produto como um reflexo da resposta endógena da moeda em relação ao produto,
rejeitando a interpretação monetarista de causalidade da moeda para o produto.
No modelo construído por esses autores, os fatores monetários são vistos como
bens intermediários cujas quantidades aumentam ou diminuem, de acordo com o
desenvolvimento da atividade econômica real. Assumindo que o estoque de
depósitos é proporcional ao fluxo de serviços transacionados na economia, o
modelo implica que o volume de depósitos bancários é positivamente
correlacionado com o produto e altamente coincidente no tempo com este. Dessa
forma, apenas em algumas fases dos ciclos econômicos pode ser considerado,
conforme análises tradicionais monetaristas, como um indicador antecedente dos
ciclos econômicos.
Assim, existe uma correspondência
com as evidências empíricas apresentadas por Friedman, entretanto as
perspectivas são inteiramente diferentes. Enquanto na teoria monetarista,
mudanças exógenas na quantidade de moeda desempenham um papel importante como
causadoras dos movimentos cíclicos do produto, King e Plosser enfatizam a
resposta endógena[5] dos
fatores monetários em relação às alterações no produto.
Outra corrente teórica que tem se
dedicado ao estudo dos ciclos econômicos é aquela formada pelos novos
Keynesianos. Alguns de seus maiores expoentes são George Akerlof, Janet Yellen,
Olivier Blanchard, Gregory Mankiw, Edmund Phelps, David Romer, Joseph Stiglitz
e Ben Bernanke.
Estes economistas, simpatizantes
da visão Keynesiana de que os ciclos econômicos podem ser causados por
flutuações na demanda agregada, voltaram a sua atenção para a rigidez nominal
no mercado de bens. Assim, a economia novo-Keynesiana surgiu na metade da
década de 1980, como uma descrição das novas teorias que procuravam prover
micro-fundamentos mais sólidos para o fenômeno da rigidez nominal de preços.
Com as firmas operando em um mercado de competição imperfeita, o lucro de uma
firma pode variar substancialmente com as mudanças no seu próprio preço.
Redução de preços por determinada firma poderá ocasionar aumento das vendas,
mas também pode resultar em uma receita menor por unidade vendida. Em algumas
circunstâncias, as divergências do preço em relação ao valor ótimo apenas
produzirão redução dos lucros. Portanto, a presença de pequenos custos para a
efetivação do ajustamento de preços pode gerar considerável rigidez agregada
dos preços nominais (Akerlof &
Yellen, 1985) e (Mankiw, 1985).
Os custos privados que provocam a
rigidez nominal em cada empresa, considerados individualmente, são
insignificantes para acarretarem a rigidez macroeconômica. Portanto, a chave
para o entendimento dessa rigidez macro é a presença de barreiras ao
ajustamento de preços, conhecidos como custos de menu. Estes custos de menu
incluem os custos físicos de alteração dos preços, como por exemplo, a emissão
de novas listas de preços e catálogos, bem como o excessivo gasto
administrativo com a supervisão e renegociação dos contratos de compra e venda.
Conforme esses autores
supracitados, pequenos custos de menu e o procedimento dos agentes
próximo ao racional acarretam rigidez nominal de preços, em que choques na
demanda agregada nominal podem causar grandes flutuações no produto e no bem
estar geral. Claramente, se os salários nominais são rígidos devido aos
contratos, a curva de custo marginal é fixa, reforçando o impacto dos custos de
menu na produção da rigidez de preços. Dessa forma, como as flutuações
geram ineficiência e reduzem o bem estar da economia,
esses autores indicam que uma política econômica de estabilização é
desejável.
As flutuações na demanda agregada
de curto prazo podem conduzir a efeitos reais devido à rigidez nominal de
preços e salários. Dessa forma, se os mercados não se ajustam rapidamente e o
mundo é caracterizado por distúrbios da oferta e demanda agregadas, as
flutuações observadas consistem em tendência estocástica em torno do produto,
cujos desvios são resultantes de choques de demanda. As flutuações no produto e
emprego são devidas a dois tipos de distúrbios: os que produzem um efeito
permanente sobre o produto e aqueles que geram apenas efeitos transitórios. Os
primeiros podem ser interpretados como distúrbios de oferta e os segundos, como
distúrbios de demanda. Claramente o papel da política de estabilização no mundo
caracterizado dessa forma é complicado, principalmente porque, empiricamente,
pode-se concluir que os choques de demanda desempenham papel fundamental nas
flutuações do produto no curto e médio prazo, entretanto, as respectivas
contribuições dos distúrbios de demanda e de oferta não puderam ser
precisamente quantificadas (Blanchard & Quah, 1989).
Considerando outras influências
teóricas, os novos Keynesianos também examinam as conseqüências das
imperfeições no mercado de crédito que levam os ofertantes de crédito com
aversão ao risco responder às recessões com mudanças no seu portifólio em
direção a ativos mais livres de risco. Esse comportamento pode converter uma
recessão em uma depressão, principalmente quando o financiamento de crédito
torna-se cada vez mais difícil e dispendioso, gerando insolvências e falências
na economia. Como as altas taxas de juros podem aumentar a probabilidade de
inadimplência, as instituições financeiras para não incorrerem em altos riscos
recorrem à política de racionamento de crédito. Bernanke (1983) argumentou que a Grande Depressão da década
de 1930 atingiu tamanha severidade devido à interrupção das facilidades do
sistema financeiro de crédito, em comparação à causa referente ao declínio da
oferta de moeda.
Stiglitz é uma das principais
referências novo-Keynesianas sobre estruturas financeiras e flutuações
econômicas, desenvolvendo seus argumentos em um arcabouço de equilíbrio geral,
de agentes representativos com expectativas racionais e comportamento
maximizador. No longo prazo, trabalhou com a possibilidade de desemprego
involuntário e estagnação. Diferentemente dos modelos novo-Keynesianos
centrados na rigidez de preços, considera que a flexibilidade de salários e
preços nominais pode exacerbar a instabilidade do sistema econômico. Ele vê a
presença generalizada de assimetria de informações nos mercados de capitais,
com suas implicações sobre os comportamentos de aversão a riscos dos agentes,
uma das responsabilidades pelas flutuações tanto nas decisões de investimento das
firmas, como na oferta de fundos para financiá-los. Desse modo, o modelo de
ciclos econômicos de Stiglitz (1984) está baseado em sua explicação
de como as assimetrias de informações afetam os mercados de ações e de crédito,
em outras palavras, como os racionamentos nos mercados de capitais exercem
impacto sobre as expectativas dos administradores das empresas quanto a arcar
com os riscos decorrentes dos processos de produção e investimento.
Segundo Basu & Taylor
(1999) outro fator que pode ser considerado um importante determinante das
flutuações cíclicas na economia é a alteração na mobilidade de capital. O foco
sobre os choques no mercado de capitais discute o impacto da economia global
sobre as crises ou depressões das economias locais. Entretanto, não se pode
entender os determinantes dos ciclos econômicos sem procurar explicar porque
suas características têm mudado significativamente ao longo do século. Assim
deve-se dispensar maior atenção ao contexto histórico e institucional para
encontrar um entendimento mais amplo das flutuações econômicas.
Outros teóricos que estudam os
ciclos econômicos defendem que a ação interna dos políticos é fundamental para
a explicação das flutuações econômicas. Eles argumentam que essas ações ocorrem
em resposta ao descontentamento da população contra o aumento das taxas de
inflação. Recessões são causadas para “quebrar” o ciclo de expectativas
inflacionárias e permitir redirecionar o crescimento econômico com baixas taxas
de inflação. Modelos de ciclos econômicos políticos baseiam-se na hipótese de
que os governantes promovem uma recessão imediatamente após a sua eleição para
que consigam desencadear um período de expansão econômica, anterior ao próximo
período eleitoral.
Nordhaus
(1975) analisou um modelo de escolha pública intertemporal do governo, em que
foi analisado o problema particular da determinação entre inflação e
desemprego, pois este conflito é bastante controverso em decisões políticas.
Investigações empíricas mostraram que os eleitores são sensíveis ao comportamento
dessas duas variáveis no processo eleitoral. Os resultados indicaram que uma
coincidência entre os ciclos políticos e econômicos, para países como
Austrália, Canadá, Japão e Inglaterra, foi considerada implausível. Alguma
evidência foi comprovada para França e Suécia. Entretanto, para os períodos
analisados, três países – Alemanha, Nova Zelândia e EUA – apresentaram uma
perfeita coincidência entre os ciclos econômicos e políticos.
Alesina
& Sachs (1988) concluíram que
as administrações Democratas nos EUA estão mais preocupadas em atingir metas
para o produto ao invés de atingir metas para a inflação. Os resultados
encontrados, para o período de 1948 a 1984, também sugeriram que a teoria
partidária em relação à política econômica contribui para explicar as
flutuações macroeconômicas. Alesina
& Rosenthal (1989) desenvolveram
um modelo para captar alguns aspectos críticos dos sistemas políticos modernos.
O lado econômico do modelo utiliza a noção de que os agentes econômicos agem
rotineiramente de forma ingênua em relação ao governo. Entretanto, com
expectativas racionais, esforços antecipados de manipulação da economia não
surtem efeito sobre o nível real de produto. Os autores concluíram que a
polarização política e incerteza geram flutuações econômicas e que os eleitores
utilizam o poder que dispõem diante das urnas para tentarem atenuar essa
oscilação engendrada pela polarização.
A escola pós-Keynesiana está
inspirada principalmente nos escritos de Joan Robinson, Nicholas Kaldor, Michal
Kalecki, George Shackle, Piero Sraffa e do próprio Keynes. Essa teoria
referente aos ciclos econômicos está baseada na evidência de que flutuações no
investimento, ocasionadas por mudanças nas expectativas de longo prazo e
condições financeiras, explicam grande parte da dinâmica inerente do
capitalismo e juntamente com a separação da economia em setores de bens de
consumo e bens de capital, podem explicar a natureza pró-cíclica de inúmeros
agregados econômicos. A pró-ciclicidade do investimento e dos bens de capital podem
ser explicados pelo período do início da recuperação econômica, em que são
observados novos investimentos e novas plantas. A pró-ciclicidade da
produtividade deve-se também ao incremento da capacidade produtiva. Assim, na
análise pós-Keynesiana, as recessões podem servir ao propósito de permitir a
renovação da capacidade produtiva da economia.
Na teoria Keynesiana, quatro são
os principais motivos que explicam a preferência pela liquidez: transação,
precaução, especulação e motivo finance. Transação: os homens são
levados a conservar seu dinheiro sob a forma líquida para atender às
necessidades das compras habituais. Precaução: desejo de segurança, em que o
dinheiro é conservado sob a forma líquida para suprir despesas imprevistas.
Especulação: constitui, segundo Keynes, o mais importante dos estímulos,
estando diretamente ligado às futuras variações da taxa de juros. A preferência
pela liquidez deriva da expectativa de uma elevação da taxa de juros. Sendo, em
dado momento, a taxa de juros muito baixa e os custos bastante elevados, os
especuladores conservam o dinheiro sob a forma líquida, com a esperança de
utilizá-lo em oportunidades mais lucrativas. Motivo finance: constituindo a demanda por moeda para financiar despesas
não-discricionárias e vultosas, referindo-se à quantidade de dinheiro
necessária para dar início a um projeto de investimento.
Segundo Davidson (1991), preferência pela liquidez e animal
spirits[6]
são as forças que movem a análise Keynesiana do equilíbrio com desemprego no
longo prazo em uma economia em que os preços são flexíveis. Nem as
probabilidades objetivas e subjetivas são suficientes para entender o papel da
moeda não neutra e da política monetária na análise do equilíbrio com
desemprego. Assim, para Keynes e para os pós-Keynesianos, desemprego
involuntário e as recorrentes flutuações econômicas podem ser explicados sem
recorrer a rigidez de preços, informação assimétrica, ou qualquer outra
imperfeição de mercado cuja análise possa envolver maximização das escolhas dos
agentes, limitada pelas restrições de um mundo probabilístico. Portanto, não é
surpreendente que o desemprego continue a ser um dos grandes problemas do
século XX, pois é tratado no domínio das preferências dos agentes em um pequeno
mundo analítico e não de forma mais abrangente, como parte da política
macroeconômica.
Modelos de ciclos econômicos
desenvolvidos pelos pós-Keynesianos são consistentes com a concepção da
economia como um sistema aberto, em que se trabalha concomitantemente com a
cadeia de expectativas que fundamentam a incerteza e com a oferta de moeda
respondendo endogenamente pela demanda de crédito das empresas engajadas no
processo de produção. Consideram que as expectativas de curto prazo podem se
tornar frustradas; as expectativas de longo prazo são variáveis; e, as
expectativas de curto e longo prazo são independentes. A taxa de juros
comercial é determinada por um markup sobre a taxa de desconto do Banco
Central e as decisões de investimento são determinadas pela taxa de juros
comercial e pelo animal spirits dos empresários.
Conforme Setterfield (2000), de acordo com o cenário descrito acima,
cada período envolve mudanças nos planos de produção e demanda de consumo, que
são forças de convergência dentro do modelo, acompanhadas por forças de mudança
estrutural que se manifestam na revisão do estado das expectativas de longo
prazo, através de seu impacto sobre gasto com investimento alterando a posição
de equilíbrio. Os procedimentos e decisões das empresas e do Banco Central são
considerados simétricos para que a oferta e a demanda agregada se igualem.
Entretanto, essa simetria não elimina a possibilidade de um procedimento
cíclico na economia, mas sugere que as flutuações ocorrem como uma posterior
expansão positiva sobre a tendência da renda nominal, resultando em um modelo
de crescimento e ciclos. Assim, alterações na renda nominal podem ser marcadas
por mudanças na política monetária que pode acarretar cumulativas expansões e
contrações na atividade econômica, possibilitando o aparecimento de ciclos na
renda nominal, embora essas flutuações não sejam periódicas e não possuam
amplitude fixa, devido aos fatores responsáveis pela evolução cíclica da
economia – revisões no estado das expectativas de longo prazo e alterações na
taxa de desconto.
Minsky (1957) utiliza o processo acelerador-multiplicador
linear como um instrumental flexível de análise econômica de crescimento e
ciclos. A hipótese fundamental é que esse aparato pode ser usado para
representar geração intertemporal de demanda agregada. Em particular, o
processo é capaz de gerar simultaneamente tendência e ciclos da economia, em
que uma séria depressão ocorre se o período de contração vem acompanhado por
uma crise financeira ou se o período de aquecimento está associado com um
relativo pequeno aumento ou um decréscimo na posição dos ativos líquidos dos
indivíduos e firmas.
Minsky (1982) considerando as flutuações cíclicas e outros
problemas, como recessões e depressões, evidenciados pela economia americana a
partir da metade da década de 1960, faz a seguinte conclusão geral. Esses
problemas não são devidos a déficits orçamentários ou a erros gerados pelo
controle de oferta de moeda: os problemas refletem o curso normal da economia.
É necessário reformar as estruturas econômicas para que a instabilidade
proveniente da estrutura financeira seja consideravelmente diminuída. O ciclo
em Minsky é financeiro e inerente ao sistema.
6 – Desenvolvimentos Recentes Sobre a Teoria dos Ciclos
Econômicos
Os ciclos econômicos foi uma das linhas teóricas da macroeconomia
largamente debatida ao longo do século XX, principalmente em suas duas
primeiras e três últimas décadas. A tentativa de procurar entender as causas da
forte queda do produto e do alto desemprego, bem como, a busca de soluções que
possam evitar a ocorrência de novas crises deu forte impulso aos estudos sobre
as origens e causas das flutuações. Conforme Romer (2001), os principais fatos que delinearam o estudo
dos ciclos de negócios estão relacionados às evidências de que as flutuações
não exibem um padrão de comportamento regular e são distribuídos de forma
desigual através dos diversos componentes do produto. Dessa forma, mantém-se
clara a controvérsia sobre as causas dessas flutuações dentro das duas
correntes dominantes na literatura sobre os ciclos.
Dijik e Franses
(2005) salientam que apesar da vasta
literatura teórica e empírica nessa área, ainda existem várias questões que
merecem uma explicação e um consenso econômico, como: definição e mensuração do
ciclo; a existência de choques exógenos e a maneira como eles se propagam na
economia; a existência dos ciclos comuns entre diversas variáveis
macroeconômicas importantes para a teoria das flutuações; a convergência destas
flutuações; e, por último, mas não menos importante, a não linearidade dos
ciclos econômicos. Desta forma, recentemente, vêm sendo desenvolvidos estudos
que buscam verificar uma dinâmica não linear dos ciclos de negócios,
ressaltando a existência de um comportamento assimétrico das flutuações do
produto.
Hamilton (2005) critica fortemente a teoria moderna sobre as flutuações, a
teoria dos Ciclos Econômicos Reais, baseado em que esta teoria não faz
associações entre as variáveis reais e as variáveis monetárias, assim como,
salienta a necessidade de explorar assimetricamente os ciclos, através de
modelos não lineares, que consigam quantificar a queda e a ascensão do nível de
emprego. E, segundo conclusões desse autor, os elementos desse padrão
assimétrico estão relacionados ao comportamento cíclico das taxas de juros.
Dessa forma, ele entende que um
movimento assimétrico possa ser descrito, em linhas gerais, pela presença de
comportamentos dinâmicos endógenos, distintos entre si e fortemente ligados aos
períodos de contração e expansão do nível de atividade econômica. Juntamente, insere-se
a utilização de modelos que tenham a concepção das mudanças de regimes ou
fases, como os modelos STAR (Smooth Threshold Autoregressive), que possuem
grande aplicabilidade no estudo da dinâmica dos ciclos de negócios, pois, além
de captarem as bruscas quedas e recuperações acentuadas do produto,
possibilitam melhores estimativas e melhor adequação às séries, em
contrapartida aos modelos lineares.
7 - Conclusões
Ainda hoje,
existem duas vertentes teóricas sobre as causas das flutuações econômicas. A
primeira delas considera as flutuações cíclicas como inerentes ao modo de
produção das economias de mercado. A outra considera as flutuações como desvios
do produto em relação à sua tendência de longo prazo, referentes a choques
externos de demanda e de oferta. Dentro dessas correntes teóricas inúmeras
variáveis podem ser responsabilizadas diretamente pelos ciclos econômicos.
Distúrbios de todos os tipos, monetários ou reais, ou a interação de ambos
podem produzir flutuações na atividade econômica. Conforme monetaristas, os
fatores monetários desempenham um papel importante na instabilidade econômica.
Entretanto, grande parte da moderna teoria dos ciclos tem negligenciado os
fatores monetários e superestimado os fatores reais. Investimento é o elemento
chave para alguns economistas. Para outros, o progresso tecnológico é a
variável central. Existem proposições de que não se pode existir depressão na
economia, sem que haja colapso no sistema financeiro. Há ainda, os estudos
sobre os ciclos políticos.
Mitchell,
mesmo não pretendendo propor especificamente nenhuma abordagem teórica, definiu
os ciclos econômicos como expansões e contrações ocorrendo simultaneamente e
interdependentemente em diversos setores da economia. Como há comprovação
empírica pelas diversas correntes teóricas de que vários fatores econômicos
podem ser a causa principal dos fenômenos cíclicos, provavelmente não se pode
considerar uma única variável ou um único fator como causadores dos ciclos,
corroborando Mitchell. Ele ressaltava ainda, a importância do contexto
histórico e institucional para o estudo do fenômeno das flutuações cíclicas na
economia.
A
importância do contexto histórico é fundamental para Marx, que construiu a sua
teoria mostrando que a evolução das economias de mercado está condicionada e
determinada pelo contexto histórico e que este, por sua vez, é influenciado
pelas diferentes fases evolutivas das economias. Assim, os ciclos e as crises
econômicas são explicados de forma abrangente.
A partir
dessa breve revisão teórica verifica-se que a vertente de que as flutuações
econômicas são intrínsecas às economias de mercado tem como principais
expoentes Marx e mais recentemente Kalecki. Enquanto, por outro lado, a
vertente que acredita que as principais causas dos ciclos econômicos são os
fatores exógenos encontra fundamental defesa na teoria de Schumpeter e, mais
recentemente, na teoria dos ciclos reais de negócios e nas teorias
novo-Keynesianas. Conclui-se ainda, a partir das observações das diferentes
teorias abordadas aqui sobre os ciclos econômicos, que eles podem ser
explicados não a partir de uma cisão entre estas duas vertentes teóricas, mas
sim, a partir de uma junção entre elas. Dessa forma, entendemos os ciclos como
inerentes às economias de mercado, e que, vez por outra são intensificados por
fatores exógenos de demanda e de oferta.
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[1]
Segundo Marx, o subconsumo na economia capitalista existe em estado crônico,
uma vez que a exploração da mais-valia impossibilita ao operário a aquisição do
produto de seu trabalho no mercado.
[2] A
análise estática, por outro lado, era principalmente confinada ao campo da
microeconomia, como na teoria do valor.
[3] Na
realidade, o conceito de causação circular (cumulativa) é anterior. Wicksell,
já o utilizava em um contexto econômico - no livro Juros e Preços, de 1898 (Metzler, 1941).
[4] O
impacto do choque sobre o produto possui uma influência permanente, não se
mostrando como estacionário de tendência ou de reversão de tendência.
[5]
Paradoxalmente, o argumento de que a oferta de moeda é endógena é uma das
principais proposições da escola pós- Keynesiana.
[6]
Para Keynes, “animal spirits” pode ser entendido como um componente
psicológico das expectativas que são refletidas de forma relativamente autônoma
pelos agentes econômicos.
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