sexta-feira, 26 de fevereiro de 2016

Sweezy: O Triunfo do Capital Financeiro

A história do capitalismo como o conhecemos hoje, começa na revolução industrial, na segunda metade do século dezoito. Os atores principais foram as pequenas empresas operando em mercados competitivos. Os avanços tecnológicos, começando e se expandindo a partir das indústrias têxteis, motivaram o que logo se transformou em um processo de auto-reprodução e auto-expansão de acúmulo e crescimento econômico. Este processo foi a base empírica da primeira ciência social real, a economia política clássica.
Nos primeiros estágios do capitalismo industrial, os mercados eram ainda amplamente locais, um fato que não apenas limitava seu tamanho, mas também agia como um retentor para o comportamento competitivo dos participantes. Mais tarde, com o desenvolvimento dos meios de transporte e comunicação (canais, barcos a vapor, ferrovias, telégrafo), os mercados expandiram-se muito, produzindo uma concorrência impessoal e acirrada. Até a segunda metade do século passado, a acumulação de capital e o crescimento econômico já haviam chegado a um grau de intensidade febril.
De um ponto de vista, isto era esplêndido. O capitalismo estava fazendo o que se esperava dele. Mas, de um outro ponto de vista, no que se refere à rentabilidade do capital, as coisas pareciam bem diferentes. 
A dificuldade era que cada vez mais na atividade industrial, os capitalistas, na tentativa de obterem melhores resultados que os outros, expandiram sua capacidade de produção muito além do ponto de lucro máximo, em muitos casos além do ponto de qualquer lucro
As empresas mais fracas caíram em grupos à beira do caminho, e mesmo as mais fortes tinham que lutar para sobreviver. Para os Estados Unidos, já brigando por um lugar de liderança no mundo capitalista, um número conta a história. O índice de preços de venda no atacado (1910-1914) chegou a 185 no final da Guerra Civil em 1865. Em 1890, caiu para 82, um declínio de 57% em vinte e cinco anos. Tanto o capital quanto o trabalho foram gravemente arrochados; a agitação industrial e a violência alcançaram novas alturas; a literatura econômica do período é cheia de pessimismo e presságios terríveis.
Foi nestas circunstâncias que a história deu uma virada decisiva. Em todos os países capitalistas avançados, as duas últimas décadas do século XIX testemunharam um processo intenso de concentração e centralização de capital. As companhias mais fortes abocanhavam as mais fracas e uniam-se de várias formas e combinações (cartéis, "trustes", "holdings", corporações gigantes), visando eliminar a concorrência estreita e obter o controle das políticas de preço e produção. 
Foi neste período também que os capitalistas dos países principais, buscando avidamente novos mercados e fontes mais baratas de matérias primas, chegaram a colonizar ou por outro lado ganhar o controle de países mais fracos da África, Ásia e América Latina. Até a virada do século XX o que já tinha sido em pequena escala, o capitalismo local de pequeno alcance do século dezenove, transformou-se no sistema imperialista controlado por monopólio típico do século XX .
É importante compreender o papel das finanças nesta transformação histórica. Até o último trimestre do século dezenove, os bancos e os intermediários das finanças, tinham duas funções principais: de um lado, prover o crédito de curto prazo necessário para manter o ritmo da indústria e o giro do comércio e, do outro lado, abastecer as exigências de longo prazo dos governos (especialmente para sustentar exércitos e travar guerras), sejam empresas de serviços privadas ou públicas (canais, estradas de ferro, instalações para distribuição de água, etc.) e grandes companhias de seguro. Após a Guerra Civil (1861-1865), em cujo financiamento e abastecimento foram feitas muitas fortunas, muitos capitalistas direcionaram sua atenção de maneira crescente para a indústria e tornaram-se os principais movimentadores no processo global de concentração, freqüentemente detendo a propriedade ou o controle de vastos títulos e ações no que viria a ser mais tarde chamado de ponto culminante do comando da economia. 
Em tudo isto, a carreira de J.P. Morgan, o financista mais famoso da América, tornou-se paradigmática de um modo que raramente ocorre no caso de um único indivíduo. Eu deveria mencionar também a literatura extensa, tanto analítica quanto artística, que foi estimulada pela transformação histórica do capitalismo. Três exemplos importantes vêm à mente: nos Estados Unidos, "The Theory of Business Enterprise" (1904) de Thorstein Veblen; na Alemanha, "Das Finanzkapital" (1910) de Rudolf Hilferding; e na Rússia, "Imperialism" (1917) de Lênin.
De nosso ponto de vista atual, aquele das novas tendências globais deste fim do século XX, é importante compreender que o que ocorreu cem anos atrás, já estabeleceu o cenário para o triunfo final do capital financeiro, mas não conseguiu cumprir seus objetivos iniciais. 
Durante a primeira metade do século XX, o processo de acumulação de capital continuou a se concentrar sobre o capital industrial, como tinha sido no início da revolução industrial. Os financistas desempenharam um papel importante como parceiros e freqüentemente parceiros dominantes dos capitalistas industriais. Os dois grupos partilharam o objetivo de maximizar os lucros do capital produtivo (aço, óleo, produtos químicos, utilidades, papel, etc.), no entanto, muitos deles devem ter lutado pela divisão dos despojos. Havia, naturalmente, especialistas como banqueiros comerciais, corretores da bolsa de valores e negociadores de títulos que viviam em um mundo financeiro onde a especulação sempre foi uma tentação e oportunamente, como em toda a história do capitalismo, poderiam encarregar-se da atividade de seus próprios segmentos com grande envolvimento na sociedade e com conseqüências desastrosos para muitos. Mas no todo, as finanças eram ainda subordinadas à produção.
No processo de acumulação de capital propriamente dito, ocorreu uma mudança significativa nos últimos anos do século XX , seguindo o período tempestuoso de concentração e centralização que precederam. Os preços atacado que, conforme observado anteriormente, estavam caindo desde a Guerra Civil, começaram a subir com a virada cíclica da metade do século XIX e após isto continuaram numa tendência de elevação (com um grande destaque na Primeira Guerra Mundial) até os anos 20. A contrapartida deste movimento de preços foi uma queda no investimento de capital visto que as corporações oligopolísticas emergentes mais recentes aprenderam como ajustar suas políticas de produção à capacidade de absorção de seus mercados. Os historiadores deste período observaram de maneira geral que a década anterior à guerra foi apática com um nível elevado de do desemprego e declínios não frequentemente longos e curtos períodos de ascensão.

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