O afastamento de Dilma Roussef se deu, a meu juízo, principalmente, pela derrocada da economia. O governo perdeu a mão na condução macroeconômica e, consequentemente, fragilizou sua posição.
O desemprego e o endividamento bateram na porta dos brasileiros. A inflação corroeu a renda, principalmente, dos mais pobres e o apoio popular que o governo desfrutou por mais de dez anos, simplesmente, derreteu junto com a economia.
A corrupção sem freio também contribuiu para a derrocada do governo de coalizão montado pelo PT. A coalizão ficou tão parecida com uma quadrilha que se tornou raro alguém enxergar diferenças.
O PT se afastou de suas origens, associou-se as forças que criticou ao longo de sua existência, mergulhou "de cabeça" num projeto de poder se associando a elite rentista. Provou do fruto e gostou.
O PT entregou nacos substanciais de poder (verbas) aos "aliados" que hoje são taxados de traidores, conspiradores. Quem olha o quadro, sem se deixar enganar, não tem dúvida que Sarney, Jucá, Renan, Temer, Malluf, Alves do RN, Lobão, Picciani, Cabral, Paes do RJ, Barbalho, Collor, etc. continuam os mesmos. Quem mudou?
O que o PT colhe agora é o produto de suas escolhas.
O que vem a seguir?
O PT forçado pelas circunstância deve se reencontrar com suas origens. Expulso do festim e com marcas profundas terá bastante tempo para lamber as feridas e como promoveu avanços sociais significativos não ficará abandonado. Encontrará acolhida nos movimentos sociais, mas não terá como fugir da expiação dos pecados.
As forças conservadoras, por via indireta, contando com a luxuosa ajuda do PT, retomaram o comando. O 'ajuste' das contas públicas será doloroso e o sofrimento social aumentará, pois, evidentemente, não será a elite rentista que pagará a conta.
João Manoel Cardoso de Mello escreveu em 1992: "No Brasil a lógica espontânea do mercado é a da regressão econômica, da decadência social e da barbárie política. [...] Não há razão para otimismos. O otimismo neste momento tão dramático da vida nacional, serve apenas aos conservadores..."
Decorridos 24 anos nos reencontramos com a 'barbárie política' e assistimos, novamente, a cena deplorável da cassação de uma presidente da República.
Também nos reencontramos com a regressão econômica, com três anos seguidos de estagnação e decréscimo do PIB e o pior, com perspectiva sombria para o futuro.
A 'cereja' deste bolo diabólico é a decadência social. Os milhões de desempregados, desalentados, pobres e miseráveis serão chamados, mais uma vez, para oferecerem suas cotas de sacrifícios.
Parece que estamos presos a uma espécie de feitiço do tempo em que voltamos sempre ao ponto de origem e com o mesmo e dramático enredo: o sacrifício da porção mais pobre da população para gáudio do rentismo.
Otimismos? Somente para os de sempre: os donos do poder.
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