O ano de 1915 foi de sede e fome para o sertão nordestino. Episódios terríveis foram registrados naquele ano. Leva de retirantes dirigia-se para Mossoró, diariamente, em busca da salvação. Mas muitos não conseguiam chegar ao destino; morriam pelo caminho. Aos que chegavam restava a vergonha da miséria, a humilhação de pedir o que comer, de implorar por um trabalho onde pudesse ganhar o que comer.
Chega 1916 e com ele bom inverno. Mas para os flagelados de Mossoró, a situação era a mesma. Muitos continuaram residindo sob a copa verde dos juazeiros e quixabeiras. A chuva trouxe enxurradas, que encheram os barreiros, criando focos de endemias. A febre veio dizimando criaturas indefesas, que sem comida nem agasalho tentavam sobreviver.
O padre Manoel de Almeida Barreto, na época Diretor do Colégio Diocesano Santa Luzia e pároco, registrou um encontro que teve com uma flagelada na periferia da cidade. Assim registrou o padre:
“Uma mulher caminhava a passos perdidos, soluçando aos ventos a elegia dos infinitamente tristes.
- Que há, minha velha? Disse-lhe.
-Sei dizer que ali, debaixo daquela quixabeira, perdi marido, filhos, todos, somente eu fiquei para sofrer...
- E para onde vai?
- Sozinha sigo para minha terra Pau dos Ferros. Choveu lá. Perdi tudo, porém lá tenho parentes e está chovido, é o que basta. Chuva em minha terra, nada falta. Mas ali, debaixo daquela quixabeira de meus pecados, perdi e deixo a minha alma!... Sinto febre, estou a morte, não sei se alcançarei Pau dos Ferros.
-Sei dizer que ali, debaixo daquela quixabeira, perdi marido, filhos, todos, somente eu fiquei para sofrer...
- E para onde vai?
- Sozinha sigo para minha terra Pau dos Ferros. Choveu lá. Perdi tudo, porém lá tenho parentes e está chovido, é o que basta. Chuva em minha terra, nada falta. Mas ali, debaixo daquela quixabeira de meus pecados, perdi e deixo a minha alma!... Sinto febre, estou a morte, não sei se alcançarei Pau dos Ferros.
Estou por tudo, pois a vida que tenho está ali enterrada, perto, disse, daquela quixabeira. Algumas palavras de conforto e alguns tostões caíram naquela alma que saiu em pranto, cambaleando, ao farfalhar da brisa nordestina, sem esperança de chegar a terra, donde emigrou forçada”.
Naquela época, a administração municipal estava a cargo do comerciante Francisco Vicente Cunha da Mota. Apesar das dificuldades que teve de vencer, ocasionadas pela seca, a sua administração ficou assinalada por uma série de acontecimentos e realizações notáveis, todas de incentivo ao desenvolvimento de Mossoró e região.
O historiador Câmara Cascudo registra: “Há uma sociedade, em 1916, construindo rodovias para auto-caminhões, ligando Mossoró a Limoeiro, no Ceará. A Intendência auxilia com cinco contos. Cuida-se de urbanismo. O engenheiro Henrique de Navaes mandara uma planta da cidade com projeção de bairros novos e sistematização dos existentes.”
É nesse ano que Mossoró ilumina-se de luz elétrica. A Intendência contratara o serviço com a Empresa Força, Luz e Melhoramentos de Mossoró. A iluminação começaria com 120 lâmpadas de 32 velas.
Foi também nesse ano, a 15 de outubro de 1916, que circulou o primeiro número do jornal “O Nordeste”, sendo proprietário José Martins de Vasconcelos. O referido jornal circulou até 1934. José Vasconcelos era jornalista, poeta, músico, político, historiador, autodidata, animador de quaisquer entidades culturais, sendo um espírito sem desânimo e uma figura de alta simpatia humana, segundo as palavras de Cascudo.
Como curiosidade podemos registrar que foi nesse mesmo ano que Manoel Reginaldo da Rocha, conhecido por “Nezinho Doze Anos”, construiu uma série de vinte casinhas, dando nome ao bairro “Doze Anos”. O apelido devia-se ao fato do mesmo ser pequenino e fraco, parecendo ter apenas aquela idade. Ficara assim chamada a “Família Doze Anos”.
Foi assim o ano de 1916 em Mossoró.
Blog Geraldo Maia
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