terça-feira, 26 de fevereiro de 2019

A informalidade no capitalismo contemporâneo

PUBLICADO EM 26-02-2019

As faces e os disfarces da informalidade no capitalismo contemporâneo: um estudo do comércio de rua em Pau dos Ferros/RN

Este trabalho discute as expressões da informalidade no capitalismo contemporâneo. Temática de relevância para a análise da realidade do trabalho, hoje, e da lógica que move o capital, sua presença real na vida dos indivíduos. 

O comércio de rua da cidade de Pau dos Ferros, conhecido popularmente como feira livre, foi escolhido como espaço da pesquisa. 

O objetivo central é apreender e analisar as articulações e as lógicas, presentes na configuração do comércio de rua desta cidade, situada no estado do Rio grande do Norte, explicitando a funcionalidade da informalidade para a acumulação capitalista, mas também para a reprodução de segmentos da classe trabalhadora. 

Assentamos nossa análise na perspectiva da totalidade, na tentativa de apreender as determinações históricas do fenômeno em foco. Compreende a análise dos mecanismos utilizados pelo capital para se reproduzir no atual contexto histórico, que tem implicado na composição dos mercados de trabalho dos diversos países, e nas diversas formas de exploração a que os trabalhadores de um modo geral estão submetidos. 

Implica, igualmente, na discussão do desenvolvimento do capitalismo em solo brasileiro, da lógica que permeia sua dependência e, principalmente, do recurso à superexploração do trabalho, como alavanca para a acumulação interna. 

O percurso da investigação compreendeu pesquisa teórica para constituir as bases de análise teórico-metodológica e delinear o contexto no qual se circunscreve nosso objeto de pesquisa, além de pesquisa de campo, realizada em duas fases: observação sistemática, que possibilitou mapear características dos comerciantes e da infraestrutura do comércio, e a realização de entrevistas com informantes chaves. O material recolhido foi perscrutado com base em esquema analítico inspirado da análise de conteúdo. 

Dentre as principais considerações elaboradas a partir do processo de pesquisa, destacamos: o comércio de rua de Pau dos Ferros permanece envolto na venda majoritária de produtos agropecuários, isso demonstra as características estruturais da região. Todavia, a oferta desse produto não mais se restringe ao excedente do pequeno produtor local. A presença do revendedor alterou a distribuição desse produto, dinamizando-a. Em paralelo, se desenvolvem práticas comerciais, cujas mercadorias negociadas (industrializados) refletem o momento de restauração capitalista, uma rede comercial mais ampla. As reflexões possibilitaram, ainda, evidenciar que o comércio de rua segue se desenvolvendo na base do trabalho informal, o qual ganha funcionalidade para o sistema, na medida em que se configura como um espaço comumente utilizado para escoar parte da produção das indústrias (confecção/calçados), sobretudo, se considerada a distribuição como elemento essencial do processo complexo que objetiva à valorização do capital. Esta atividade vem funcionando como espaço gerador de ocupação e renda para os sujeitos descartados dos empregos formais, mascarando com isto o desemprego, ademais, elas lhes permitem continuar quanto consumidores. Tais expressões refletem a capacidade e a lógica do capital de se expandir e se agregar em realidades tão diversas. Está em curso, hoje, a lógica que tem conduzido muitos trabalhadores à adesão ao projeto de dominação do capital, pela ilusória possibilidade de se tornarem capitalistas. O objetivo tem sido transformar o sujeito em consumidor, e o trabalhador num empreendedor.



Nenhum comentário:

Postar um comentário