RN tem alto índice de deficiência E OUTROS DADOS DIVULGADOS PELO IBGE
TRIBUNA DO NORTE:
O Rio Grande do Norte é um dos Estados brasileiros com o maior índice de
pessoas com um ou mais tipos de deficiência (visual, motora, auditiva
e/ou mental/intelectual). No total, são 882.022 potiguares portadores de
pelo menos um destes problemas. O índice corresponde a 27,8% do total
da população e é o mesmo da Paraíba, conforme dados do Censo 2010. Além
dos percentual relacionado ao número de pessoas com algum tipo de
deficiência, o órgão federal divulgou números que dizem respeito à
imigração, nupcialidade (casamentos, divórcios, relações estáveis),
fecundidade (número de filhos por família) e mortalidade infantil,
educação, trabalho, rendimento, deslocamento e domicílios. A maioria
deles apresentou significativa melhoria quando comparados com os
percentuais obtidos no Censo Demográfico do ano 2000.
De acordo com o chefe da Unidade do IBGE no RN, Aldemir Freire, a
estimativa é de que o percentual de deficientes no Estado aumente nos
próximos anos. "Como nossa população está envelhecendo, a tendência é
que o percentual de deficiências aumente", analisou. Uma ressalva,
porém, precisa ser feita. As pessoas que usam óculos ou lentes de
contato também são inseridas na estatística pois são consideradas
deficientes visuais, conforme norma do Ministério da Saúde, além
daqueles, é claro, que nasceram cegos ou adquiriram a cegueira ao longo
da vida por motivos diversos. A pesquisa não tabulou, entretanto, quais
são os percentuais de deficientes congênitos e os que adquiriram
determinada imperfeição.
Dentre as pessoas com algum tipo de
deficiência no estado, 6.929 são cegas, 4.879 são surdas, 13.606 não
conseguem se locomover e 52.028 apresentam algum tipo de imperfeição
mental/intelectual. Em termos percentuais, o Rio Grande do Norte ocupa a
quarta posição com 1,64% da população apresentando algum tipo
deficiência mental permanente. À frente estão Alagoas, em primeiro
lugar com 1,92% da população com problemas similares, em seguida o Acre,
com 1,65% e, em terceiro, a Paraíba com 1,65% dos seus habitantes com
deficiência mental.
"Os indicadores tem uma estreita relação com
a faixa etária da população potiguar. A tendência é que o Rio Grande do
Norte siga a mesma tendência do restante do país e, em 2020, tenhamos o
início do declive da taxa de fecundidade. Além disso, haverá também o
aumento do número de idosos e, consequentemente, as deficiências
motoras, visuais e auditivas", destacou Aldemir Freire. Comparados,
porém, os índices de deficiência mental entre os anos de 2000 e 2010 no
âmbito local, os números se mantiveram estáveis.
Além dos
números relacionados às deficiências, o IBGE divulgou também dados
acerca do saldo migratório. Comparado com os demais estados da
Federação, foi o único que manteve um saldo positivo com 73 mil entradas
e 59 mil saídas entre 2005 e 2010.
Os dados relacionados à
Educação do potiguar melhoraram, quando comparados com os índices
apresentando em 2000. O Rio Grande do Norte, porém, ainda tem o desafio
educacional de impedir a recorrência do atraso escolar. O número de
alunos com idades superiores a 7 e 14 anos matriculados nas séries
correspondentes a estas faixas etárias era maior do que o número de
crianças e adolescentes com idades entre 7 e 14 anos em 2010, o que
comprova o atraso. Além disso, das 186.824 crianças com idades entre 0 e
3 anos , apenas 50.947 estavam matriculadas em creches.
Deficiência visual é a mais comum
Em
2010, havia 45,6 milhões de pessoas com pelo menos uma das deficiências
investigadas (visual, auditiva, motora e mental), representando 23,9%
da população. A diferença em relação aos dados do Censo 2000 (14,3% da
população) se deve a um aprimoramento metodológico, que possibilitou uma
melhor captação da informação.
O maior percentual foi encontrado
na Região Nordeste (26,6%), enquanto que a Sul e a Centro-Oeste
mostraram as menores proporções (22,5%). Rio Grande do Norte (27,8%),
Paraíba (27,8%) e Ceará (27,7%) apresentaram os maiores percentuais. Já
Roraima (21,2%), Santa Catarina (21,3%) e Mato Grosso do Sul (21,5%)
tiveram as menores incidências.
A deficiência visual foi a mais frequente, atingindo 35,8 milhões.
Casamentos consanguíneos entre as causas
A
quantidade de pessoas com algum tipo de deficiência mental no Rio
Grande do Norte pode ter uma explicação simples, mas sem comprovação
científica. De acordo com os diretores do Centro de Reabilitação
Infantil (CRI), Manoel Leonardo Nogueira Júnior e Sueldo Queiroz, existe
no Estado uma cultura de casamentos ou relações sexuais entre parentes
consaguíneos que resultam em filhos com algum tipo de deficiência
mental/intelectual. Esta, porém, não é única causa.
A segunda e,
considerada a mais grave pelos profissionais da Saúde, é a falta de
estrutura dos postos de Saúde da rede básica nos pequenos e grandes
municípios do Rio Grande do Norte. Além disso, a falta de médicos
especializados no acompanhamento das gestantes e a falta de estrutura
das unidades de Saúde para atender a crescente demanda, reflete no
nascimento de crianças com paralisia cerebral de diversificados níveis.
"A
demora no atendimento, as más condições dos hospitais e maternidades
durante o parto, a gravidez mal encaminhada, são algumas dos fatores que
contribuem para o elevado índice de crianças com paralisia cerebral no
estado", comentou o diretor geral do CRI, Nogueira Júnior. A maioria dos
casos ocorre pois as crianças nasceram minutos depois do que deveriam e
o cérebro acaba sofrendo pela falta de oxigênio. As consequências são
carregadas pelas crianças pelo resto da vida. A paralisia cerebral é
irreversível. "A questão da atenção básica é a que deve ser melhor
estruturada. Este é um grande problema", destacou Sueldo Queiroz.
Além
disso, o Rio Grande do Norte é recordista mundial em casos da Síndrome
de Spoan - doença rara que causa atrofia do sistema nervoso e que deixa
os portadores paralíticos. Os primeiros casos dessa doença foram
identificados no município de Serrinha dos Pintos, em filhos de casais
com um grau de parentesco muito próximo. "É muito difícil fazer algum
tipo de trabalho neste sentido. O casamento entre primos é muito forte
no interior e é uma dificuldade para eles entenderem as consequências
genéticas desta união", comentou Nogueira Júnior.
Os
profissionais do CRI trabalham na estruturação de um projeto que irá
traçar o perfil dos deficientes potiguares. Existe em curso o estudo de
da montagem de uma rede de assistência ao deficiente que refletirá quase
que em 100%, o perfil dos pacientes que buscam atendimento no CRI. A
maioria dos atendimentos realizados pelo Centro são em crianças com
paralisia cerebral, que passaram da hora de nascer, e hoje são
portadoras de problemas motores e cognitivos em diversos graus.
Mensalmente, são realizados cerca de sete mil procedimentos que incluem
sessões de fisioterapia, acompanhamento psicológico, psiquiátrico e
médico geral.
"Nosso objetivo, também, é descentralizar o
atendimento. O CRI atende pessoas de 0 a 18 anos e depois que elas saem
daqui nós a encaminhamos para as organizações não governamentais. O
ideal é que cada município tenha um centro de reabilitação de pacientes
com as características dos que atendemos aqui", disse Nogueira.
Síndrome de Spoan
A
Síndrome de Spoan ou simplesmente SPOAN (acrônimo de Spastic
paraplegia, optic atrophy and neuropathy) foi identificada pela primeira
vez no município de Serrinha dos Pintos, interior do Rio Grande do
Norte. As pessoas em que esta doença se manifesta sofrem atrofia do
sistema nervoso e ficam paralíticas. A síndrome é determinada por um
alelo autossômico recessivo. Sendo uma doença de origem genética,
considera-se que as chances de ela ocorrer é favorecida através de
descendentes de casais consanguíneos. Dos 73 casos identificados pelos
pesquisadores da USP no Brasil, 72 deles concentram-se na região do
oeste do Rio Grande no Norte sendo que na maioria dos casos pode-se
determinar um alto grau de parentesco dos casais progenitores.
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