Sinais do além
Por Marcelo Eduardo A. Silva
A partir de 1999 com a
entrada em vigor do regime de metas de inflação, a política monetária
tem se guiado em um tripé bastante conhecido: uma meta explícita de
inflação, câmbio flutuante e superávit fiscal. Diria que este tripé foi
fundamental para garantir a estabilidade necessária para que a economia
começasse a pensar em questões de mais longo prazo e a passar por
períodos de turbulência com impactos reduzidos sobre o seu desempenho.
Apesar do sucesso desta estratégia, há sinais de que o governo atual
tenha resolvido estabelecer metas diferentes. Em particular, preocupa-me
duas coisas: a primeira é que o Banco Central não é mais, na minha
opinião, a principal voz na condução da política monetária. A segunda é
que aparentemente o governo resolveu mexer no tripé, basicamente ao
focar numa meta implícita para a taxa de câmbio e relaxar no combate à
inflação.
No primeiro caso, os insistentes posicionamentos de
membros do governo e da própria presidente sobre qual deveria ser a
trajetória da Selic e a consequente alteração da mesma, mostra que
talvez o Banco Central esteja perdendo a independência operacional que
vinha gozando desde a época do governo FHC. Aliás, vale salientar que
apesar de discordâncias terem ocorrido no governo Lula sobre o
comportamento da política monetária, o Banco Central sempre manteve seu
foco naquilo que ele sabe fazer de melhor: controlar a inflação. Isto
parece ter mudado.
À despeito das expectativas de mercado sobre a
inflação se encontrarem em torno de 5,22% para 2012 de acordo com o
último boletim Focus do BCB, isto não parece incomodar o governo.
Tampouco incomodou o fato da inflação ter alcançado a incrível marca de
6,499999% em 2011, nas contas do IBGE, ou seja, quase e quase mesmo no
topo da meta de inflação que era de 6,5%.
No segundo caso, as
frequentes intervenções do Banco Central no mercado de câmbio e as falas
do ministro da fazenda e da própria presidente sobre “usar todas as
armas necessárias” para evitar a sobrevalorização do real (em alusão aos
problemas que isto causaria à competitividade setor industrial)
levantam a suspeita de que o governo esteja perseguindo uma meta
implícita de câmbio.
Ao fazer isto põe em xeque o tripé sobre a qual se
baseou a nossa história de sucesso na política monetária até então. O
problema é que nossas experiências passadas com pirotecnias na política
econômica nos deixaram um legado de baixo crescimento e inflação alta no
passado recente, algo que os “novos velhos magos” da política econômica
brasileira insistem em não se lembrar.
Crescimento econômico se gera
com maior produtividade, produtividade se gera com melhorias na
infraestrutura, redução e simplificação tributária e burocrática, com
investimentos em ciência e tecnologia, formação de capital humano, e não
com medidas que buscam alterar a nossa competitividade artificialmente
seja através de intervenções no mercado de câmbio seja com crédito
subsidiado via BNDES para os industriais e empresários de sempre. Mexer
no tripé pode até gerar algum benefício no curto prazo, mas a conta
salgada virá em breve.
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