sábado, 19 de maio de 2012

Sinais do além

Por Marcelo Eduardo A. Silva

A partir de 1999 com a entrada em vigor do regime de metas de inflação, a política monetária tem se guiado em um tripé bastante conhecido: uma meta explícita de inflação, câmbio flutuante e superávit fiscal. Diria que este tripé foi fundamental para garantir a estabilidade necessária para que a economia começasse a pensar em questões de mais longo prazo e a passar por períodos de turbulência com impactos reduzidos sobre o seu desempenho. 

Apesar do sucesso desta estratégia, há sinais de que o governo atual tenha resolvido estabelecer metas diferentes. Em particular, preocupa-me duas coisas: a primeira é que o Banco Central não é mais, na minha opinião, a principal voz na condução da política monetária. A segunda é que aparentemente o governo resolveu mexer no tripé, basicamente ao focar numa meta implícita para a taxa de câmbio e relaxar no combate à inflação.

No primeiro caso, os insistentes posicionamentos de membros do governo e da própria presidente sobre qual deveria ser a trajetória da Selic e a consequente alteração da mesma, mostra que talvez o Banco Central esteja perdendo a independência operacional que vinha gozando desde a época do governo FHC. Aliás, vale salientar que apesar de discordâncias terem ocorrido no governo Lula sobre o comportamento da política monetária, o Banco Central sempre manteve seu foco naquilo que ele sabe fazer de melhor: controlar a inflação. Isto parece ter mudado. 

À despeito das expectativas de mercado sobre a inflação se encontrarem em torno de 5,22% para 2012 de acordo com o último boletim Focus do BCB, isto não parece incomodar o governo. Tampouco incomodou o fato da inflação ter alcançado a incrível marca de 6,499999% em 2011, nas contas do IBGE, ou seja, quase e quase mesmo no topo da meta de inflação que era de 6,5%.

No segundo caso, as frequentes intervenções do Banco Central no mercado de câmbio e as falas do ministro da fazenda e da própria presidente sobre “usar todas as armas necessárias” para evitar a sobrevalorização do real (em alusão aos problemas que isto causaria à competitividade setor industrial) levantam a suspeita de que o governo esteja perseguindo uma meta implícita de câmbio. 

Ao fazer isto põe em xeque o tripé sobre a qual se baseou a nossa história de sucesso na política monetária até então. O problema é que nossas experiências passadas com pirotecnias na política econômica nos deixaram um legado de baixo crescimento e inflação alta no passado recente, algo que os “novos velhos magos” da política econômica brasileira insistem em não se lembrar. 

Crescimento econômico se gera com maior produtividade, produtividade se gera com melhorias na infraestrutura, redução e simplificação tributária e burocrática, com investimentos em ciência e tecnologia, formação de capital humano, e não com medidas que buscam alterar a nossa competitividade artificialmente seja através de intervenções no mercado de câmbio seja com crédito subsidiado via BNDES para os industriais e empresários de sempre. Mexer no tripé pode até gerar algum benefício no curto prazo, mas a conta salgada virá em breve.

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