Bancos do Mensalão cobram R$ 83 milhões de Valério na Justiça
Em reportagem publicada ontem (23), a Folha de S. Paulo revelou que as dívidas de Marcos Valério com dois bancos do Mensalão, cobradas judicialmente, somam R$ 83 milhões:
A dez dias do início do julgamento do
mensalão, Marcos Valério e seus ex-sócios devem na Justiça pelo menos R$
83 milhões que saíram dos bancos Rural e BMG para abastecer o PT e
partidos aliados em 2003 e 2004.
A Folha teve acesso aos
processos no Tribunal de Justiça de Minas em que os bancos cobram o
valor, mas, segundo avaliação de envolvidos no episódio, a dívida jamais
será paga.
O julgamento começa no dia 2 de agosto no STF (Supremo Tribunal Federal).
Apontado como operador do
mensalão, Valério alega que pegou o dinheiro a pedido do PT e, para
pagar aos bancos, cobra R$ 100 milhões do partido na Justiça.
“Há uma responsabilidade de natureza civil do PT”, diz o advogado de Valério, Marcelo Leonardo.
De acordo com a Procuradoria-Geral da
República, em 2003 e 2004 o Rural e o BMG fizeram empréstimos de R$ 64
milhões ao PT e às empresas de Valério.
O objetivo, sustenta a denúncia
dos procuradores, era misturar esse valor ao dinheiro público desviado
de contratos das empresas de publicidade de Valério com o Banco do
Brasil e a Câmara dos Deputados -e, com isso, camuflar a origem ilegal
dos recursos do mensalão.
O PT nega e afirma que o dinheiro que
repassou a aliados e a integrantes do partido, para atender a despesas
eleitorais, vieram exclusivamente dos empréstimos feitos no Rural e no
BMG.
E diz que pagou a sua parte em 2009, não reconhecendo, por consequência, a dívida cobrada hoje de Valério.
Já a Procuradoria descreve o mensalão de
outra forma: como um esquema de compra de apoio político no Congresso
organizado pelo PT no início do governo Lula.
E diz que os bancos liberaram o
dinheiro em troca de receber benefícios do governo. Não teriam a
intenção de cobrá-lo, o que só fizeram após o estouro do escândalo.
O Banco Rural, segundo a Procuradoria, queria o apoio do governo na aquisição de parte do Banco Mercantil de Pernambuco.
Já o BMG, diz a denúncia, teria sido beneficiado na operação de empréstimos consignados de servidores públicos.
PENHORA
Os documentos mostram que as dívidas de Valério com os dois bancos estão longe de ser quitadas.
Um dos empréstimos, de R$ 17,4 milhões, por exemplo, foi parar no arquivo da Justiça mineira no mês passado.
Trata-se do empréstimo do Rural à Graffiti, empresa do grupo de Valério.
A dívida foi atualizada para os R$ 17,4
milhões em 2005, quando a cobrança começou, mas hoje pode ser muito
maior. O banco alega que o caso será reativado quando localizar bens de
Valério para penhorar.
Em 2009, Valério assinou uma
“confissão parcial de dívida” ao dar uma Pajero e uma Toyota Fielder
para abater R$ 120 mil de outra das pendências, de R$ 38,4 milhões,
referente a empréstimo do Rural à SMPB, principal empresa do grupo.
Além disso, seu ex-sócio Ramon
Hollerbach deu imóveis avaliados em R$ 420 mil. Os dados mostram que até
agora apenas 1,5% desse empréstimo foi quitado.
No processo, Valério e os
ex-sócios chegaram a apresentar fazendas apontadas como fantasmas pela
Justiça para tentar abater a dívida.
Valério não pagou os empréstimos junto ao BMG que, segundo ele, também foram destinados ao PT.
(…)
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