Desde os primórdios de sua existência, o
homem usa a natureza com o propósito de garantir sua permanência, seu
desenvolvimento e a continuidade de sua espécie, pois os recursos naturais são
as principais fontes de manutenção da vida na terra.
Assim, a agricultura configurou-se como
uma alternativa viável para a fixação das pessoas. Embora não se saiba ao certo
onde teve origem à agricultura, sabe-se que a sua finalidade fundamental é fornecer
alimentos e matérias-primas para atender a população. Dessa forma, a prática
foi impulsionada pela necessidade humana de suprir suas carências.
O modelo de exploração ao qual o Brasil
foi submetido durante o longo período de colonização portuguesa estimulou o
aprofundamento dos laços de dependência externa e, conseqüentemente da situação
de atraso de quase todos os segmentos econômicos e sociais da colônia.
A exceção devia-se as atividades
econômicas voltadas para a exportação e aos poucos beneficiários que
controlavam essas atividades. Segundo BRUM (1999 p. 121), “articulados com os
interesses econômicos dos centros hegemônicos mundiais, dos quais dependiam, os
senhores de terras, coadjuvados pelos grandes comerciantes e traficantes,
controlavam a sociedade, refletindo, no plano interno, a dominação
internacional de poucos sobre muitos”.
Assim sendo, a economia colonial estava
direcionada para incentivar a produção de bens para exportação, favorecendo,
dessa forma, aos proprietários das terras (latifundiários) que possuindo a
principal fonte geradora de riquezas, passaram a exercer os poderes econômicos,
militares e político.
A descoberta do continente americano foi
impulsionada por um “espírito aventureiro” que assolava a Europa e pela
necessidade de suprir o mercado interno europeu das “especiarias” que davam
maior vigor ao capitalismo mercantil, assim, com a descoberta do Brasil,
inauguram-se os ciclos de exploração, característicos da economia brasileira
até meados da década de 1930.
A bem da verdade, o que norteou o
processo de colonização foi à possibilidade de exploração dos recursos naturais
existentes nas novas terras em benefício dos países europeus. De acordo com
PRADO JUNIOR (1998 p. 23), “se vamos à essência da nossa formação veremos que na
realidade nos constituímos para fornecer açúcar, tabaco, alguns outros gêneros,
mais tarde, ouro e diamante, depois algodão, e em seguida café, para o comércio
europeu. Nada mais que isto”.
Desde o início, a organização da colônia
visava gerar riquezas para a metrópole, isso porque imperava na Europa os
princípios mercantilistas, que pressupunham, entre outras coisas, que as nações
mais ricas e poderosas eram as que conseguissem atrair e reter a maior
quantidade possível de metais preciosos (BRUM, 1999).
No entanto, as perspectivas portuguesas
de encontrarem vultosas riquezas minerais, como tinha ocorrido com os espanhóis
nas suas colônias, foram frustradas. A exploração colonial inicia-se de fato
com a extração do pau-brasil na faixa litorânea, uma vez que, as possibilidades
que se apresentavam não eram das mais animadoras.
Descoberto assim o território que
haveria de constituir o Brasil, não se tardou muito em procurar aproveitá-lo.
As perspectivas não eram brilhantes. O famoso Américo Vespúcio, que viajou como
piloto alternadamente com espanhóis e portugueses, e que nos deu com suas
cartas a primeira descrição no novo mundo, escrevera a respeito: pode-se dizer
que não encontramos nada de proveito (PRADO JÚNIOR, 1998 p. 24).
Essa afirmação de Vespúcio deixa
transparecer o propósito principal das viagens empreendidas: encontrar produtos
de preferência prontos, que pudessem despertar o interesse dos consumidores
europeus e / ou riquezas minerais de fácil acesso.
No entanto, portugueses e outros
viajantes que visitavam as terras brasileiras, depararam-se com uma árvore de
boa aceitação no mercado europeu e passaram a explorá-la, utilizando-se do
trabalho indígena, geralmente, em troca de quinquilharias.
Dessa forma, a extração do pau-brasil,
configurou-se na primeira atividade rentável na etapa inicial de colonização,
atraindo a atenção de Portugal para a necessidade de ocupação e defesa do amplo
território colonial.
Assim, a coroa portuguesa instituiu o
plano de ocupação, baseado na distribuição de extensas áreas de terras aos
nobres portugueses interessados em explorar a colônia. Essas propriedades
receberam o nome de capitanias hereditárias e os beneficiados (donatários)
deveriam arcas com todas as despesas de ocupação do território.
Superadas as dificuldades iniciais, a
ocupação efetiva das terras recém-descobertas exigia uma presença marcante do
colonizador, além de vultosos investimentos para viabilizá-la. Essa necessidade
de ocupação devia-se às pressões das outras nações européias para a repartição
das novas terras, justificando-a através do “princípio do Usi Possidetis”, ou
seja, de que a posse das terras seria de quem de fato as ocupassem. Sobre esse
aspecto assevera FURTADO (1976 p. 6):
O início da ocupação econômica do
território brasileiro é em boa medida uma conseqüência de pressão política
exercida sobre Portugal e Espanha pelas demais nações européias. Nestas últimas
prevalecia o princípio de que espanhóis e portugueses não tinham direito senão
àquelas terras que houvessem efetivamente ocupado.
Para evitar que franceses, holandeses e
ingleses se estabelecem definitivamente nas terras da colônia, Portugal iniciou
a exploração agrícola do território brasileiro, com a introdução do cultivo da
cana-de-açúcar.
De acordo com FURTADO (1976), a
empreitada lusitana foi coroada de êxito graças a um conjunto de fatores
favoráveis, tais como: domínio das técnicas de produção, uma vez que, já
produziam açúcar nas ilhas de Açores e da Madeira; possuíam relativos avanços
técnicos nesse setor (indústria de equipamentos); conhecimento prévio dos
canais de comercialização; ruptura do monopólio veneziano no comércio do
açúcar; contribuição dos Flamengos (principalmente holandeses) no transporte,
refinamento, distribuição e financiamento da produção; resolução dos problemas
com a mão-de-obra, através da importação de escravos africanos, além de
contarem com um mercado em expansão (demanda crescente).
Esses e outros fatores conjugados
permitiram o estabelecimento e o sucesso inicial da empresa agrícola implantada
no Brasil.
Trechos do texto: O MODELO ECONÔMICO PRIMÁRIO-EXPORTADOR
(1500-1930): UM BREVE HISTÓRICO, de Freitas Filho (2002), disponível para consulta no CAMEAM. Reprodução autorizada, desde que a fonte seja citada.
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