Autor:
João Suassuna
Caracterização da região
Representando 18,3% do território brasileiro, o Nordeste é formado por
nove estados: Maranhão, Piauí, Ceará, Rio Grande do Norte, Paraíba, Pernambuco,
Alagoas, Sergipe e Bahia.
A região semi-árida nordestina é, fundamentalmente, caracterizada pela
ocorrência do bioma da caatinga, que constitui o sertão.
O sertão nordestino apresenta clima seco e quente, com chuvas que se
concentram nas estações de verão e outono. A região sofre a influência direta
de várias massas de ar (a Equatorial Atlântica, a Equatorial Continental, a
Polar e as Tépidas Atlântica e Calaariana) que, de certa forma, interferem na
formação do seu clima, mas essas massas adentram o interior do Nordeste com
pouca energia, tornando extremamente variáveis não apenas os volumes das
precipitações caídas mas principalmente, os intervalos entre as chuvas. No
Semiárido chove pouco (as precipitações variam entre 500 e 800 mm, havendo, no
entanto, bolsões significativos de 400 mm) e as chuvas são mal distribuídas no
tempo, sendo uma verdadeira loteria a ocorrência de chuvas sucessivas, em
pequenos intervalos.
Portanto, o que realmente caracteriza uma seca não é o baixo volume de
chuvas caídas e sim a sua distribuição no tempo. O clima do Nordeste também
sofre a influência de outros fenômenos, tais como: El Niño, que interfere
principalmente no bloqueio das frentes frias vindas do sul do país, impedindo a
instabilidade condicional na região, e a formação do dipolo térmico atlântico,
caracterizado pelas variações de temperaturas do oceano Atlântico, variações
essas favoráveis às chuvas no Nordeste, quando a temperatura do Atlântico sul
está mais elevada do que aquela do Atlântico norte.
A proximidade da linha do Equador é outro fator natural que tem
influência marcante nas características climáticas do Nordeste. As baixas
latitudes condicionam à região temperaturas elevadas (média de 26° C), número também
elevado de horas de sol por ano (estimado em cerca de 3.000) e índices
acentuados de evapotranspiração, devido à incidência perpendicular dos raios
solares sobre a superfície do solo (o Semi-árido evapotranspira, em média,
cerca de 2.000 mmi/ano, e em algumas regiões a evapotranspiração pode atingir
cerca de 7 mm/dia). Em termos geológicos, o Nordeste é constituído por dois
tipos estruturais: o embasamento cristalino, representado por 70% da região
semi-árida, e as bacias sedimentares.
No embasamento cristalino, os solos geralmente são rasos (cerca de 0,60
m), apresentando baixa capacidade de infiltração, alto escorrimento superficial
e reduzida drenagem natural. Numa comparação grosseira, é como se estes solos
estivessem sobre um prato, onde a pouca quantidade de água que consegue se
infiltrar é armazenada no fundo.
Os aqüíferos dessa área caracterizam-se pela forma descontínua de
armazenamento. A água é armazenada em fendas/fraturas na rocha (aqüífero
fissural) e, em regiões de solos aluviais (aluvião) forma pequenos
reservatórios, de qualidade não muito boa, sujeitos à exaustão devido à ação da
evaporação e aos constantes bombeamentos realizados. As águas exploradas em
fendas de rochas cristalinas são, em sua maioria, de qualidade inferior,
normalmente servindo apenas para o consumo animal; às vezes, atendem ao consumo
humano e raramente prestam-se para irrigação. As águas que têm contato com esse
tipo de substrato se mineralizam com muita facilidade, tornando-se salinizadas.
São águas cloretadas, classificadas para irrigação, de acordo com normas
internacionais de RIVERSIDE, acima de C353 e que apresentam, normalmente, resíduos
secos médios da ordem de 1.924,0 mg/1 (média geométrica obtida através da
análise de 1.600 poços fissurais escavados no estado de Pernambuco), com valor
máximo de 31.700 mgIl.
Além da qualidade inferior da água, os poços apresentam baixas vazões,
com valores médios de 1.000 litros/h.
Nas bacias sedimentares, os solos, geralmente, são profundos (superiores
a 2 m, podendo ultrapassar 6 m), apresentando alta capacidade de infiltração,
baixo escorrimento superficial e boa drenagem natural. Essas
características possibilitam a existência de um grande suprimento de
água de boa qualidade no lençol freático que, pela sua profundidade, está
totalmente protegido da evaporação. Apesar de possuírem de um significativo volume
de água no subsolo, as bacias sedimentares estão localizadas de forma esparsa
no Nordeste (verdadeiras ilhas distribuídas desordenadamente no litoral e no
interior da região), com seus volumes distribuídos desigualmente. Para se ter uma
idéia dessa problemática, estima-se que 70% do volume da água do subsolo
nordestino estejam localizados nas bacias do Piauí/Maranhão.
Em termos volumétricos, estima-se, no embasamento cristalino, um
potencial de apenas 80 km 3 de água/ano, enquanto nas regiões sedimentares esse
volume pode chegar a valores significativos, como os existentes nas seguintes
bacias: São Luís/Barreirinhas com 250 km3/ano, Maranhão com 17.500 km31 ano,
Potiguar/Recife com 230 km31ano, Alagoas/Sergipe com 100 krn31ano e Jatobá/Tucano/Recôncavo
com 840 km31ano.
O relevo do sertão é marcado pela presença de depressões
interplanálticas transformadas em verdadeiras planícies de erosão, devido à
grande extensão dos pediplanos secos bem conservados, embora em processo de
erosão. Os solos são, em geral, pedregosos e pouco profundos. Seus principais tipos
são o bruno-não-cálcico, os planossolos, os solos Iftólicos e os regossolos,
todos inadequados a uma agricultura convencional.
Porém ocorrem, também, vários tipos de solos com vocação agrícola. A
caatinga, vegetação xerófita aberta, de aspecto agressivo devido à abundância
de cactáceas colunares e, também, pela freqüência dos arbustos e árvores com
espinhos, distingue fisionomicamente essa região. No entanto, encontram-se, encravadas
nessa extensa região, áreas privilegiadas por chuvas orográficas, isto é, causadas
pela presença de serras e outras elevações topográficas, que permitem a
existência de matas úmidas, regionalmente conhecidas como brejos. São os brejos
de altitude do Nordeste.
A economia agrícola do sertão é caracterizada por atividades pastoris,
predominando a criação extensiva de gado bovino e de pequenos ruminantes
(caprinos e ovinos), e a cultura de espécies resistentes à estiagem,
como o algodão e a carnaúba nas áreas mais secas; e a produção de grãos
(milho e feijão) e mandioca nas áreas mais úmidas. A cana-de-açúcar é bastante
cultivada nos brejos de altitude, como em Triunfo, Pernambuco.
O agreste, como faixa de transição entre a Zona da Mata e o sertão,
caracteriza-se por uma diversidade paisagística, contendo feições
fisionomicamente semelhantes à mata, à caatinga, e às matas secas. Essa faixa
estende-se desde o Rio Grande do Norte até o sudeste da Bahia. E no agreste que
desenvolvem-se atividades agropastoris caracterizadas por sistemas de produção gado/policultura,
sendo a zona responsável por boa parte do abastecimento do Nordeste.
Nela são produzidas hortaliças, frutas, ovos, leite e seus derivados,
além de gado de corte e aves. Ela fornece, também, fibras de algodão, sisal e
óleo vegetal como matéria-prima para a indústria.
O Nordeste tem, aproximadamente, 47 milhões de habitantes, dos quais 17
milhões vivem na região semi-árida. No exacerbar de uma seca, 10 milhões de
habitantes passam sede e fome.
O Semi-árido corresponde a 53% da área do Nordeste, e é uma zona sujeita
a períodos cíclicos de secas. Estudos realizados sobre a distribuição de chuvas
no globo terrestre atestam que essa aridez é determinada
pelo processo de circulação atmosférica global, exógeno à região,
estabelecido, possivelmente, no final da era glacial, com efeitos avassaladores.
Entre suas vítimas estão essencialmente o homem e suas atividades produtivas
agroextrativistas e pecuárias. Há previsão, do Centro Técnico Aeroespacial de São
José dos Campos (CTA), de novo cicio de seca no Nordeste, já a partir de 2003,
sendo que, os piores anos tendem a estar entre 2004 e 2008.
O século XX inaugurou nova forma de lidar com a seca. O governo, com
vistas a combater seus eleitos, criou uma dotação orçamentária para tal e
instalou três comissões: a de açudes e irrigação, a de estudos e obras contra
os efeitos das secas e a de perfuração de poços. Dessas três, apenas uma permaneceu:
a de açudes e irrigação. Não tendo desempenho satisfatório, ensejou a criação da
Inspetoria de Obras Contra as Secas, hoje denominado Departamento Nacional de
Obras Contra as Secas - DNOCS.
Conviver com a seca passava, quase exclusivamente, pela construção de
grandes obras de engenharia para represar água, reputada recurso natural mais
importante, tomando a sua acumulação condição necessária e suficiente para
fixar o homem no Nordeste semi-árido. O resultado foi priorizar a implantação
do Programa de Açudes Públicos (aqueles que têm capacidade suficiente para
ultrapassar um período de seca sem se exaurirem, embora com suas águas em
constante uso).
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