sábado, 6 de agosto de 2016

OS SERTÕES - Desbravamento do sertão potiguar


               
Antes da chegada do colonizador, a terra já era ocupada por tribos indígenas Jandui e Paiacus. Mas na passagem devastadora dos povoadores dos sertões, os primitivos habitantes foram sendo escravizados, massacrados e expulsos de suas terras e nelas os povoadores fincaram os mourões das porteiras dos currais de gado. Já não havia mais lugar para os nativos. Assim começou o desbravamento do sertão potiguar.

Sertão, velho sertão nordestino. Sertão de lutas, de agruras, sertão sofredor. Se o ano for de seca, a sede, a fome e a desgraça amedrontam o sertanejo; se for ano de chuva, a fartura, a beleza do campo e o cantar da passarada alegram aquele torrão. Terras que no dizer de Euclides da Cunha são \"Barbaramente estéreis\", \"maravilhosamente exuberantes\".

O vocábulo Sertão, nos primórdios do povoamento brasileiro, designava todas aquelas regiões ainda não povoadas ou ainda mal ocupadas do país. Como a natureza hostil do interior do Nordeste dificultou a fixação humana da região, gerando uma ocupação rarefeita de lento e penoso adensamento, moldando o isolamento das comunidades, consagrou o nome de sertão para todo aquele imenso território coberto pelas caatingas.

Podemos dizer que foi o gado o desbravador do sertão. Os imensos canaviais da costa das capitanias do Nordeste eram as bases de uma economia mercantilista que fez com que o litoral bastasse aos portugueses. Toda a terra fértil próxima ao litoral estava destinada por determinação da Coroa ao cultivo exclusivo da cana-de-açúcar. Não sobrava, dessa forma, espaço para o desenvolvimento de atividades acessórias como a pecuária que fornecia carne e força motriz aos engenhos. Daí surgiu no litoral à necessidade de separação entre a monocultura da cana e a pecuária. Uma carta régia de 1701 determinava que as dez primeiras léguas a partir da batida do mar (aproximadamente 60 Km), eram destinadas a cana-de-açúcar. Para o gado sobrava o sertão. Foi no interior das capitanias, como a do Rio Grande, que o criatório mais se desenvolveu, mesmo com resistência indígena contra os primeiros assentamentos de fazendas.


Segundo Osvaldo Lamartine, “a semente do gado trazida do reino para cá foi, de princípio, mais para acudir a precisão de força do cangote do boi no giro tardo das almanjarras dos engenhos ou no gemer lamuriento das cantadeiras dos carros de boi, carregando cana e lenha, de vez que os trapiches requeriam sessenta bois, os quais moíam de doze em doze horas revezados. Com o tempo, crescendo a parição, é que se cuidou do aproveitamento do leite, das carnes e dos couros”.

E foi assim que os criadores se internaram no sertão, rompendo pelos caminhos das águas – subindo os rios ou a areia deles, já que nas secas os rios secavam. A marcha era lenta e penosa, castigada pelo sol abrasador, pela sede, rasgando as carnes nos espinhos da sarjadeira, da jurema, do sabiá, da macambira, da quixabeira, do juazeiro, do cardeiro ou do xique-xique, muitos perdendo a vida pelas flechas do caboclo-brabo ou pela picada venenosa da jararaca ou da cascavel.

Quando encontravam terras propícias, principalmente próximo a algum rio, eram fincados os currais. As cabanas eram construídas de madeira e palha, tendo o couro como elemento fundamental. Era a época do couro, como nos ensinou Capistrano de Abreu. “De couro era a porta das cabanas, o rude leito aplicado ao chão duro, e, mais tarde, a cama para os partos; de couro todas as cordas, a borracha para carregar água, o mocó ou alforje para levar à comida, a mala para guardar roupa, a mochila para milhar o cavalo, a peia para prendê-lo em viagem, as bainhas das facas, as bruacas e surrões, a roupa de entrar no mato, os bangüês para costumes ou para apurar sal”.

Com a implantação dos currais, se consolidavam os aglomerados. Como religiosos fervorosos que eram logo construíam uma capela e ao seu redor surgiam as casas, sendo a do fazendeiro a mais vistosa. Nesta se instalavam e moravam alguns dependentes da família, os filhos, parentes e aderentes. E assim nasciam as Fazendas.

No caso do sertão potiguar, algumas fazendas se transformaram em povoados, vila e deram origem, dentre outras, às cidades de Açu, Apodi, Caicó, Portalegre, Pau dos Ferros, Currais Novos, Mossoró e Acari. Assim nasciam as cidades no sertão.

blog Geraldo Maia

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