domingo, 22 de março de 2020

A PANDEMIA DO COVID-19 E O SUS-RN

Já escrevi alguns textos sobre o SUS no RN. Quase todos apontando as dificuldades existentes.

Os textos são majoritariamente críticos por que as dificuldades e problemas são muitos: inadequações no funcionamento da Atenção Básica; processo de regionalização incompleto; ambulancioterapia; muitos hospitais com baixa resolutividade; poucos hospitais com resolutividade e por isso mesmo sobrecarregados; sistema de regulação ineficaz; força de trabalho insuficiente, mal remunerada, atuando em condições desfavoráveis... e tantas outras mazelas.

A síntese é que a Saúde Pública Potiguar foi submetida, ao longo das décadas, a um verdadeiro sucateamento ou, se preferir, a um desmonte estrutural.

O fato é que temos, atualmente, uma força de trabalho envelhecida, trabalhando em condições desfavoráveis e insuficiente e a COVID-19 submeterá o pessoal da linha de frente da saúde a uma pressão sem precedentes e muitos irão sucumbir. Temos também uma rede pública sobrecarregada pela redução sistemática de leitos, sucateamento e defasagem técnica de equipamentos, insumos e medicamentos insuficientes.

Na hora da aflição, muito provavelmente, as pessoas doentes e seus familiares reagirão contra quem estiver a sua frente. Na hora do desespero é até compreensível que se busque a solução do problema pessoal do familiar em situação de risco, mas não se pode direcionar a revolta para quem não tem culpa.

E quem tem culpa pelo desmonte estrutural do SUS-RN?

Pode colocar na 'conta' de todos os governantes do RN das últimas décadas. Mas não foram os únicos. O movimento atendeu interesses econômicos específicos: da rede privada de saúde (exames e procedimentos), de cooperativas privadas, de proprietários de prestadoras de serviços, especialmente os serviços terceirizados e de corruptos infiltrados na máquina pública.

Algumas figuras são bem conhecidas e, ano após ano, conseguem abocanhar nacos cada vez maiores do dinheiro público que deveria movimentar a máquina da saúde pública. 

Poucos se beneficiam do arranjo em vigor; muitos conhecem como a 'banda' vem tocando ao longo do tempo, mas silenciam; outros tantos que deveriam atuar para coibir os abusos, simplesmente, se omitem; enfim, temos uma espécie de concertação sinistra para 'produzir' o quadro que a saúde pública potiguar apresenta. Se fosse um doente estaria no setor de cuidados paliativos...

Creio que a pandemia do COVID-19 tornará evidente o quadro caótico do SUS-RN. Entretanto não sou otimista sobre possibilidades de mudanças estruturalizantes, pois as 'forças interesseiras' que dominaram o sistema continuam firmes e fortes e serão, muito provavelmente, os maiores beneficiários pelo maior aporte de recursos.

As 'engrenagens' são poderosas e bem azeitadas e já tem muita 'gente' esfregando as mãos, com bastante álcool em gel, para ganhar MUITO DINHEIRO com o sofrimento alheio.

E quando a 'tempestade' passar será feito: 

- o inventário macabro de cadáveres, cuja grande maioria será de pobres, em que os 'especialistas' dirão que morreram mais pessoas pobres por que existem mais pessoas pobres;

- o levantamento dos recursos 'gastos', em que os arautos dos arrochos fiscais bradarão cada vez mais alto pela necessidade de 'novas' DURAS medidas de contenção de despesas...

...E tudo voltará ao velho NORMAL de sempre!!!


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