Já escrevi alguns textos sobre o SUS no RN. Quase todos apontando as dificuldades existentes.
Os textos são majoritariamente críticos por que as dificuldades e problemas são muitos: inadequações no funcionamento da Atenção Básica; processo de regionalização incompleto; ambulancioterapia; muitos hospitais com baixa resolutividade; poucos hospitais com resolutividade e por isso mesmo sobrecarregados; sistema de regulação ineficaz; força de trabalho insuficiente, mal remunerada, atuando em condições desfavoráveis... e tantas outras mazelas.
A síntese é que a Saúde Pública Potiguar foi submetida, ao longo das décadas, a um verdadeiro sucateamento ou, se preferir, a um desmonte estrutural.
O fato é que temos, atualmente, uma força de trabalho envelhecida, trabalhando em condições desfavoráveis e insuficiente e a COVID-19 submeterá o pessoal da linha de frente da saúde a uma pressão sem precedentes e muitos irão sucumbir. Temos também uma rede pública sobrecarregada pela redução sistemática de leitos, sucateamento e defasagem técnica de equipamentos, insumos e medicamentos insuficientes.
Na hora da aflição, muito provavelmente, as pessoas doentes e seus familiares reagirão contra quem estiver a sua frente. Na hora do desespero é até compreensível que se busque a solução do problema pessoal do familiar em situação de risco, mas não se pode direcionar a revolta para quem não tem culpa.
E quem tem culpa pelo desmonte estrutural do SUS-RN?
Pode colocar na 'conta' de todos os governantes do RN das últimas décadas. Mas não foram os únicos. O movimento atendeu interesses econômicos específicos: da rede privada de saúde (exames e procedimentos), de cooperativas privadas, de proprietários de prestadoras de serviços, especialmente os serviços terceirizados e de corruptos infiltrados na máquina pública.
Algumas figuras são bem conhecidas e, ano após ano, conseguem abocanhar nacos cada vez maiores do dinheiro público que deveria movimentar a máquina da saúde pública.
Poucos se beneficiam do arranjo em vigor; muitos conhecem como a 'banda' vem tocando ao longo do tempo, mas silenciam; outros tantos que deveriam atuar para coibir os abusos, simplesmente, se omitem; enfim, temos uma espécie de concertação sinistra para 'produzir' o quadro que a saúde pública potiguar apresenta. Se fosse um doente estaria no setor de cuidados paliativos...
Creio que a pandemia do COVID-19 tornará evidente o quadro caótico do SUS-RN. Entretanto não sou otimista sobre possibilidades de mudanças estruturalizantes, pois as 'forças interesseiras' que dominaram o sistema continuam firmes e fortes e serão, muito provavelmente, os maiores beneficiários pelo maior aporte de recursos.
As 'engrenagens' são poderosas e bem azeitadas e já tem muita 'gente' esfregando as mãos, com bastante álcool em gel, para ganhar MUITO DINHEIRO com o sofrimento alheio.
E quando a 'tempestade' passar será feito:
- o inventário macabro de cadáveres, cuja grande maioria será de pobres, em que os 'especialistas' dirão que morreram mais pessoas pobres por que existem mais pessoas pobres;
- o levantamento dos recursos 'gastos', em que os arautos dos arrochos fiscais bradarão cada vez mais alto pela necessidade de 'novas' DURAS medidas de contenção de despesas...
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